Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Francisco Catão
Em ritmo de sínodo, a teologia nos convida a ir às fontes da
renovação da Igreja, Corpo de Cristo e, portanto, à Encarnação, que lhe está na
origem.
A Encarnação é a vinda de Deus à criação, não apenas como
Criador, dando-lhe a existência, mas
conferindo-lhe a possibilidade de participar de sua vida.
Vinda de Deus que, sendo comunicação de sua vida, nos permite chamá-lo de Pai e O acolhermos na liberdade, num ato de correspondência ao
Amor, animado pelo Espírito de Jesus.
A Encarnação é, pois, uma realidade espiritual, um “mistério”, um ato de Deus, eterno, que
transcende o tempo, ontem, hoje e sempre, mas que marca profundamente toda a História.
Foi preparada desde as origens, através de sucessivas
alianças e realizada historicamente em Jesus, cuja ressurreição comunica o
Espírito, que formamos a Igreja, expressão históricas, sacramento, da união com
Deus e da unidade do gênero humano (Vaticano II) até a consumação final no
Reino de Deus.
Sendo ato de Deus,
mistério, não nos é dado a conhecer senão através da experiência humana, em que
todos os nossos atos são fruto de uma decisão,
uma escolha. Dizemos então que Deus
Pai escolheu um povo e o preparou para
se unir espiritualmente ao seu Filho.
O ato de união se realizou com o consentimento de uma jovem,
filha desse povo, virgem totalmente voltada para Deus, inclusive na sua
maternidade, resultante da união com Deus no Espírito, santificada desde sua concepção.
A vida humana de Jesus, sendo a vida do Filho de Deus, sua Palavra
encarnada – “o Verbo se fez carne” – é o Caminho a ser seguido por todos nós, para
alcançarmos a Verdade, a plenitude da Vida, a que todos somos chamados.
Caminho de Jesus, que passa pela rejeição, pela paixão, pela
morte e pela ressurreição, e deve ser seguido por todos nós, não tanto na sua
materialidade histórica ou social, mas no (seu Espírito, o) Espírito de Jesus
que buscou, nos seus relacionamentos, sociais e políticos, sempre em primeiro
lugar o Reino de Deus.
Esse o sentido da vida de todos nós, homens e mulheres, na
sua maior diversidade cultural, social e política, a ser testemunhado pelos
cristãos, pessoal e comunitariamente como Igreja, até o fim dos tempos.
(Entende-se assim porque dizemos), Como cristãos, devemos
proclamar, pela vida e pela palavra, que a salvação, o caminho de Jesus, é
universal, um dado histórico, um acontecimento que está na base de uma visão do
mundo dá sentido à História, orienta a ética e inspira uma mística, que
desperta um processo de renovação contínua da vida humana pessoal e social que
está no horizonte de todo sínodo.
Somente nesse contexto entendemos a afirmação da Igreja,
lamentavelmente nem sempre confirmada pelos fatos, de ser uma, santa católica e
apostólica. No entanto, apesar das muitas divisões de que padece, dos pecados
que cometemos, dos sectarismos que alimentamos, da inércia e dos conformismos
que desfiguram nossa maneira de agir como cristãos, é na misericórdia do Pai
que confiamos.
Agimos muitas vezes como se a vida da Igreja dependesse
unicamente de nós, das autoridades, da administração, das celebrações, das
campanhas, dos movimentos e dos eventos que constituem a trama de sua
existência histórica, mas na verdade, a vida da Igreja é prolongamento da
Encarnação, decorrente da ação de Jesus, por seu Espírito.
Cabe a nós, na pequenez do nosso dia a dia, como à Virgem
Maria e sob sua guarda, dizer sim a Deus, que vem a nós.
Jornal "O São Paulo", edição 3181, 10 a 16 de janeiro
de 2018.
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