Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
José Ulisses Leva é padre secular e professor de História da Igreja da PUC-SP.
Por ocasião dos 300 anos (1717-2017) do Encontro de Nossa Senhora
da Conceição Aparecida com o povo brasileiro, em especial nós, cristãos
católicos, nos sentimos profundamente felizes. A celebração nos remete há três
séculos, ocorrida no Porto de Itaguaçu, nas proximidades de Guaratinguetá, interior
paulista. Este momento de profunda Fé
nos leva a uma reflexão teológico pastoral, sob os aspectos Trinitário, Eclesial
e Mariano.
Quando remetemos à Trindade Santa lemos nos relatos que
foram três os pescadores, João Alves, Domingos Garcia e Felipe Barroso, que
encontraram a imagem de Nossa Senhora. Desde sempre a Santíssima Trindade se
fez presente na Criação do mundo, sobretudo no momento em que “Deus disse:
‘Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança’ [...] Deus criou o ser
humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher Ele os criou” (Gn
1, 26-27). Em Aparecida não foi diferente à ação misericordiosa do Altíssimo
Deus em relação aos pescadores. A presença de Deus Uno e Trino e o acolhimento dos
pescadores, foram fundamentais para que ação divina tornasse a pesca frutuosa.
No milagre de Aparecida, os pescadores estavam numa barca
nas águas do rio Paraíba do Sul, no Vale do Paraíba, São Paulo, quando
encontraram a imagem. Simbolicamente, a imagem de barro de Nossa Senhora
encontrada no rio nos faz lembrar que somos feitos do barro e precisamos do
sopro divino para que haja vida; a barca representa a Igreja de Cristo Jesus; a
água é o mundo onde a Igreja está inserida, como também, nos recorda os
Sacramentos, tanto do Batismo quanto da Eucaristia. A barca se movimenta nas
águas, às vezes, turvas e profundas.
Os pescadores estavam mergulhados no trabalho de encontrar
peixes para o Conde de Assumar, que passava pela Vila de Guaratinguetá. Estavam
exaustos e sem perspectivas. Num determinado momento da pescaria encontram o
corpo, sem a cabeça, de uma imagem, mas ainda sem sucesso quanto à pesca. Os
peixes, de fato, começam a surgir quando encontram a cabeça, isto é, a
totalidade da imagem, assim chamada na invocação de Nossa Senhora da Conceição,
Padroeira de Portugal e das Colônias, e, finalmente, Aparecida.
Mesmo navegando em águas profundas e turvas, dentro da
barca, estamos firmes e seguros: “O barco, entretanto, já longe da terra, era
atormentado pelas ondas, pois o vento era contrário [...] Mas Jesus logo lhes
falou: ‘Coragem! Sou eu. Não tenhais medo’” (Mt 14, 24.27). No Corpo Eclesial,
cuja cabeça é Cristo Jesus, somos queridos. No Sacramento do Batismo, somos amados
pela Trindade Santa; e, no Sacramento da Eucaristia, somos alimentados pelo
Salvador e Redentor, Nosso Senhor Jesus Cristo. Sentados à Mesa da Palavra, nós
ouvimos Deus Revelado e, rodeados à Mesa da Eucaristia nós nos servimos do
Banquete do Reino de Deus, anunciado pelo Divino Mestre, cuja meta é o Céu,
para todos os que o ama, serve e o anuncia na alegria.
De fato, em 1717, Deus realizou o milagre: a abundância dos
peixes se deu sob a intercessão de Maria Santíssima. Os personagens e as épocas
são diferentes, mas a ação Misericordiosa de Deus permanece a mesma. “Avança
mais para o fundo, e ali lançai vossas redes para a pesca” (Lc 5,4).
Seja a celebração do III século do Encontro de Nossa Senhora
com os brasileiros, sob o Patrocínio da Conceição Aparecida, um momento
fortíssimo de reafirmarmos nossa Fé à Santíssima Trindade, sob o olhar
carinhoso e maternal da Mãe de Deus e nossa, na Igreja Una, Santa, Católica e
Apostólica de Jesus Cristo, Salvador e Redentor de todo gênero humano.
Jornal "O São Paulo", edição 3139, 22 de fevereiro
a 2 de março de 2017.
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