quinta-feira, 2 de março de 2017

Campanha da Fraternidade 2017 - Contra o consumismo, preencher os corações vazios

A Doutrina Social da Igreja na defesa dos biomas brasileiros

II



Veja no final do texto as leituras sugeridas para aprofundamento

Entre as maiores ameaças aos biomas brasileiros estão a poluição e a irresponsabilidade no uso dos recursos naturais, denunciadas em vários documentos da doutrina social da Igreja (ver Compêndio da Doutrina Social da Igreja, CDSI 465-471; Laudato si’, LS 20ss).
Podemos entender esse problema a partir da lógica de um sistema econômico estruturado a partir do crescimento contínuo da produção e do consumo, que muitas vezes em detrimento das pessoas (cf. CDSI 319, 332). Mas também devemos considerar que vivemos numa cultura consumista e do descarte (LS 22, 34, 43, 50, 203, 210, 219). Por isso, é importante que cada um faça sua parte para reduzir o consumo dos recursos naturais. Com isso, passamos a tirar menos da natureza e, ao mesmo tempo, a poluir menos.
Existe uma correlação entre a riqueza material e produção de lixo – que é a medida mais evidente do consumo. Mas não é só isso! Comparemos, por exemplo, a produção de resíduos sólidos urbanos (lixo) dos Estados Unidos e da Suécia. Ambos se equivalem quanto ao PIB per capita e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), mas os Estados Unidos produzem diariamente 2,58 kg de lixo por habitante e a Suécia apenas 1,61 kg. Os suecos são menos consumistas que os norte-americanos, sem perder qualidade de vida.
A melhor regra para reduzirmos nosso consumo é a dos “3 R”: REDUZIR o consumo, REUTILIZAR o que pode ser reutilizado, RECICLAR o que não pode ser reduzido ou reutilizado.
Quem trabalha com jovens sabe que eles se envolvem facilmente em atividades de reciclagem e reutilização. O coração humano deseja cuidar das coisas, se sentir comprometido com o bem comum, ver a beleza. Mas a redução do consumo é mais difícil.
As sociedades indígenas são aquelas da “primitiva abundância”. Têm pouco, mas não precisam de mais. Nossa sociedade é a da “eterna carência”. Nunca temos o suficiente, vivemos uma insaciedade que nos impede de saborear a vida e as coisas que já temos, que não nos deixa amar e nos solidarizar com o próximo.
Por isso o Papa Francisco denuncia “os corações vazios”, que procuram ser preenchidos por um consumo desmedido, sem saber que só o Amor pode satisfazê-los definitivamente (LS 204). Dessa forma, nos remete à mais profunda resposta ao consumismo, que é o encontro com Cristo, que sacia o coração e nos desperta para a solidariedade e o compromisso com os mais pobres e a toda a criação.


Leituras sugeridas do Magistério:
·       FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato si’ sobre o cuidado da casa comum, Roma, 24 de maio de 2015. Disponível aqui.
o  No. 18-52. Critica a cultura do descarte e denuncia a poluição e o mal-uso dos recursos naturais.
o  No. 203-227. Propõe uma educação ambiental em diálogo com a espiritualidade ecológica, capaz de “preencher os corações vazios”. O tema continua, no restante do capítulo, comentando outros aspectos que serão vistos em outros artigos dessa série.
·         PONTIFÍCIA CONSELHO JUSTIÇA E PAZ. Compêndio de Doutrina Social da Igreja. Roma, 2 de abril de 2004. Disponível aqui.
o  No. 310-335. Relaciona moral e economia nas condições de trabalho e produção do mundo de hoje (a res novae).
o  No. 465-471. Fala sobre a responsabilidade humana perante a criação.

Outras leituras sugeridas:
·        ECO-UNIFESP. Princípio dos 3 R’s. Disponível aqui. Uma apresentação simples com listas de iniciativas para reduzir, reutilizar e reciclar.
·         HOORNWEG, D; PERINAZ, B. What a Waste. A Global Review of Solid Waste Management. World Bank, Urban Development Series. Washington, DC: Urban Development & Local Government Unit, 2012. Disponível aqui. Documento técnico sobre o problema dos resíduos sólidos no mundo. Para quem quiser se aprofundar nos aspectos técnicos do tema (em inglês).
·         KAIROS, Instituto. Portal do Consumo Responsável. Disponível aqui. Um Portal com leituras, notícias e propostas para a prática de um consumo responsável, que ajuda o meio ambiente e se contrapõem ao consumismo.
·        ROCHA, R. Educação ambiental e política dos 3 R’s. Futuro professor. Espaço de discussão sobre a educação e o magistério. Disponível aqui. Traz uma abordagem crítica sobre o método dos 3 R’s, discutindo a relação entre redução e reciclagem.
Francisco Borba Ribeiro Neto
Jornal “O São Paulo”, edição 3140, 3 a 7 de março de 2017

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