Os debates sobre reforma política num momento em que os
homens públicos brasileiros enfrentam uma grave crise de legitimidade lembra as
palavras do poeta católico T.S. Eliot, quando diz que frequentemente tentamos
escapar à treva, que nos corrói e se alastra a nosso redor, sonhando com
sistemas tão perfeitos que tornem desnecessário sermos bons (cf. Coros de”A
rocha”).
Não cabe à doutrina social da Igreja postular sobre sistema
eleitoral (proporcional, distrital, etc.), financiamento de campanha,
parlamentarismo e outros temas assim. São questões circunstanciais, que
dependem da história e da conjuntura de cada nação, responsabilidade a ser
exercida com autonomia por seu povo. Mas o realismo cristão nos leva a
reconhecer que a solução dos problemas nunca pode ser confiada apenas às
estruturas.
Instituições realmente boas são o fruto de pessoas boas e
ajudam todos a se tornarem melhores. Como afirmou Bento XVI, na abertura da
Conferência de Aparecida: “As estruturas justas são [...] condição
indispensável para uma sociedade justa, mas não nascem nem funcionam sem um
consenso moral da sociedade sobre os valores fundamentais e sobre a necessidade
de viver estes valores com as necessárias renúncias, inclusive contra o
interesse pessoal”.
Valorizar o papel da pessoa na vida política não significa
buscar salvadores messiânicos, mas compreender que uma sociedade justa vai
sendo construída aos poucos, com a contribuição de todos. Nesse momento, é
dever de cada brasileiro, dentro do espaço de responsabilidade que lhe cabe,
lutar para que estruturas e instituições sejam transformadas com vistas ao
bem-comum, consciente que não existirão soluções mágicas, que qualquer caminho
implica em um trabalho de construção e correção continuas.
Tanto a esperança desmedida nessa ou naquela solução quanto
a desesperança que imobiliza e fecha no individualismo são manifestações de
irrealismo, opostas à sabedoria cristã.
Para termos uma política comprometida com o bem-comum é
necessário não só buscar a correção das deformações do sistema atual, mas
também trabalhar para que todos tenham cada vez mais condições de escolher bem
seus representantes, por meio da educação e da participação efetiva na vida
pública, além de criar condições para que pessoas honestas se candidatem com
chances aos cargos eletivos.
Afinal, como Eliot conclui a passagem citada, aquele que
realmente é há de ofuscar o que apenas pretende ser.
Francisco Borba Ribeiro Neto
Jornal "O São Paulo", edição 3166, 13 a 19 de setembro
de 2017.
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