segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Reforma política e doutrina social da Igreja

Os debates sobre reforma política num momento em que os homens públicos brasileiros enfrentam uma grave crise de legitimidade lembra as palavras do poeta católico T.S. Eliot, quando diz que frequentemente tentamos escapar à treva, que nos corrói e se alastra a nosso redor, sonhando com sistemas tão perfeitos que tornem desnecessário sermos bons (cf. Coros de”A rocha”).
Não cabe à doutrina social da Igreja postular sobre sistema eleitoral (proporcional, distrital, etc.), financiamento de campanha, parlamentarismo e outros temas assim. São questões circunstanciais, que dependem da história e da conjuntura de cada nação, responsabilidade a ser exercida com autonomia por seu povo. Mas o realismo cristão nos leva a reconhecer que a solução dos problemas nunca pode ser confiada apenas às estruturas.
Instituições realmente boas são o fruto de pessoas boas e ajudam todos a se tornarem melhores. Como afirmou Bento XVI, na abertura da Conferência de Aparecida: “As estruturas justas são [...] condição indispensável para uma sociedade justa, mas não nascem nem funcionam sem um consenso moral da sociedade sobre os valores fundamentais e sobre a necessidade de viver estes valores com as necessárias renúncias, inclusive contra o interesse pessoal”.
Valorizar o papel da pessoa na vida política não significa buscar salvadores messiânicos, mas compreender que uma sociedade justa vai sendo construída aos poucos, com a contribuição de todos. Nesse momento, é dever de cada brasileiro, dentro do espaço de responsabilidade que lhe cabe, lutar para que estruturas e instituições sejam transformadas com vistas ao bem-comum, consciente que não existirão soluções mágicas, que qualquer caminho implica em um trabalho de construção e correção continuas.
Tanto a esperança desmedida nessa ou naquela solução quanto a desesperança que imobiliza e fecha no individualismo são manifestações de irrealismo, opostas à sabedoria cristã.
Para termos uma política comprometida com o bem-comum é necessário não só buscar a correção das deformações do sistema atual, mas também trabalhar para que todos tenham cada vez mais condições de escolher bem seus representantes, por meio da educação e da participação efetiva na vida pública, além de criar condições para que pessoas honestas se candidatem com chances aos cargos eletivos.
Afinal, como Eliot conclui a passagem citada, aquele que realmente é há de ofuscar o que apenas pretende ser.
Francisco Borba Ribeiro Neto
Jornal "O São Paulo", edição 3166, 13 a 19 de setembro de 2017.

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