Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Francisco Catão,
teólogo com doutorado pela Universidade de Estrasburgo (França), foi professor
no Instituto Pio XI e na Faculdade São Bento, autor de vários livros, tais como
"O que é a Teologia da Libertação", "Em busca do sentido da vida"
e "Espiritualidade cristã".
Comemorando o Ano Mariano Nacional, o Cardeal Scherer, nosso
arcebispo, nos brindou com a carta pastoral Viva
a Mãe de Deus e nossa! Na oportunidade dos diversos aniversários marianos
deste ano, recorda a doutrina mariana da Igreja, dá orientações detalhadas
sobre várias práticas pastorais/devocionais e termina, “invocando, com Nossa
Senhora Aparecida, o Espírito Santo, sobre o caminho sinodal da arquidiocese e
a graça de um novo vigor evangelizador e pastoral”.
Ao recordar a doutrina, defende a posição católica contra as
clássicas objeções da grande maioria das igrejas e denominações protestantes,
seguindo o importante capítulo VIII, sobre
o lugar de Maria no mistério de Cristo e da Igreja, da Constituição
Dogmática sobre a Igreja, Lumen gentium,
promulgada pelo Concílio Vaticano II, em 1964.
Não nos parece,
então, inútil relembrar alguns aspectos das longas e, por vezes, apaixonadas
discussões entre os padres conciliares a respeito de como situar Maria no
mistério de Cristo, exatamente em relação à Igreja.
Forte corrente mariológica dentre eles defendeu, até quase o
fim das discussões, que Maria constituía, digamos, um mistério especial. Assim
pensavam ora porque tinham uma concepção prevalentemente institucional e
canônica da Igreja, ora porque consideravam os privilégios da Mãe de Deus como
carismas, no sentido técnico do termo, expressões excepcionais do dom de Deus,
em vista da santificação da Igreja.
Foi preciso decidir no voto, se a doutrina sobre Maria
deveria se inserir na Constituição sobre a Igreja, tratando-a como membro da
Igreja, ou se seria objeto de um documento próprio, dado o lugar particular que
ocupa no desígnio salvador de Deus.
Na votação excepcional não se alcançou a maioria
regulamentar dos dois terços, mas o papa Paulo VI acolheu a tese de que Maria
era a expressão acabada da santidade, membro eminente da Igreja, por estar como
ninguém próxima de Deus, como Mãe de seu Filho, santificada por Ele, como todos
nós, participantes da mesma santidade.
Todos os cristãos, acolhidos pelo Pai num mesmo Povo,
encabeçados por Cristo, filho de Maria, num mesmo Espírito, formamos a Igreja,
expressão histórica como que “o sacramento da união com Deus e da unidade de
todo o gênero humano”, como diz a mesma Constituição Lumen gentium, que, por isso não podia deixar de incluir Maria.
A Igreja é, antes de tudo, um mistério de santidade,
participação na vida de Deus, na qual somos introduzidos pela Palavra de Deus
encarnada, Jesus, que nos santifica a todos, por seu gesto salvador de amor,
entregando-se na cruz como homem.
A Igreja é obra da graça. A humanidade de Jesus é santa e
vem de Maria, “cheia de graça”, valendo-lhe o título de Mãe da Igreja, Mãe do
Povo de Deus. A santidade tem primazia sobre todos os dons hierárquicos e
carismáticos.
Em clima a de sínodo, não se pode esquecer essa grande lição
do Vaticano II, de que a santidade Jesus, graça capital vivida em plenitude por
sua Mãe, é o lugar de Maria na Igreja, no mistério cristão.
Jornal "O São Paulo", edição 3170, 11 a 17 de
outubro de 2017.
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