Ana Paula Zanini é farmacêutica,
Monitora de Pesquisa Clínica, membro do Instituto Bio10- Bioética &
Desenvolvimento Social.
As modernas técnicas de Biologia Molecular e Genética
permitiram um avanço extraordinário no estudo das células-tronco nas últimas
décadas. As células-tronco são células indiferenciadas, auto renováveis e com
potencial de diferenciação, que geram as células especializadas dos tecidos do
organismo humano.
Essa capacidade
de se transformar em diferentes tipos de tecidos, bem como de secreção de
substâncias bioativas, desperta na comunidade científica, desde a década de 60,
grande interesse por seu estudo, com vistas à aplicação nos serviços de atenção
à saúde.
As pesquisas com células tronco adultas são legítimas; porém
a pesquisa com células tronco embrionárias (ou seja, com embriões humanos) é
eticamente reprovável. De fato, a obtenção das células tronco embrionárias
acarreta a destruição de embriões provenientes de fertilizações “in vitro” ou
de clonagem terapêutica, pontos polêmicos que precisam ser discutidos à luz do
direito à vida. Adicionalmente, por conta do elevado potencial de diferenciação
e de incompatibilidade com o receptor, o risco de formação de tumores e de
rejeição é maior com células tronco embrionárias do que com células tronco
adultas. A boa notícia é que as pesquisas com células tronco adultas se
revelaram nos últimos anos muito mais promissoras.
Segundo a base de dados do Instituto Nacional de Saúde (NIH)
dos EUA, ClinicalTrials.gov, hoje em todo o mundo, há 6.186 estudos com células
tronco em pacientes. A maioria desses estudos tem como foco a averiguação de
segurança em pequenos grupos de pacientes, mas é interessante que em alguns
desses estudos as células tronco adultas já revelaram eficácia terapêutica.
As células tronco adultas, que são encontradas em quase todo
o corpo (medula óssea, cordão umbilical, tecido adiposo etc.) têm sido mais
empregadas nos estudos, pois podem ser obtidas sem ferir a ética em pesquisa. Ainda não existe nenhuma terapia com células
tronco embrionárias aprovada por entidades regulatórias no mundo e os estudos
em andamento são em sua maioria de lesão na medula espinal e em oftalmologia
(degeneração macular).
No Brasil, na União Europeia e nos EUA, as terapias celulares
aprovadas pelas agências regulatórias são os transplantes de células tronco da medula
óssea e de algumas células tronco autólogas, especialmente em casos de doenças
onco-hematológicas, onde o perfil de segurança e eficácia das células tronco
adultas já foi devidamente elucidado. Em agosto deste ano, a agência norte
americana, FDA, aprovou o primeiro tratamento de engenharia genética contra leucemia.
Adicionalmente, a descoberta das células tronco pluripotentes induzidas, que
mereceu o prêmio Nobel de Medicina em 2012, ampliou ainda mais a expectativa dos
profissionais da saúde com novos tratamentos.
Assim, os portadores de doenças neurológicas, autoimunes,
cardiovasculares, oftalmológicas, oncológicas entre tantas outras, esperam que
as células tronco tragam a cura ou ao menos alívio de seus sofrimentos. Ainda assim,
os pesquisadores são unânimes ao afirmar que mais estudos são necessários para
o desenvolvimento e aprovação regulatória de novas terapias celulares.
Felizmente, prevalece o êxito com as pesquisas em células tronco adultas ou as
pluripotentes induzidas, em detrimento das pesquisas com células tronco
embrionárias, eticamente reprováveis.
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