Padre Denilson Geraldo, SAC, é
professor da Faculdade de Teologia da PUC-SP e membro da Cátedra André Franco
Montoro de DIreito da Família da PUC-SP.
O Papa Francisco constituiu no Vaticano em 2016 o
Dicastério (organismo) para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, com a
missão de promover o desenvolvimento da pessoa à luz do Evangelho. Atuará nas
áreas relacionadas com as migrações, os necessitados, os enfermos, as vítimas
dos conflitos armados e desastres naturais, os encarcerados, os desempregados e
os que sofrem qualquer forma de escravidão e de tortura. Também recolherá
informações e resultados de pesquisa sobre a justiça e a paz, o desenvolvimento
dos povos, a promoção e proteção da dignidade humana e dos direitos humanos;
avaliará esses dados e informará às Conferências Episcopais suas conclusões,
oferecendo material de estudo e apoio. Poderá estabelecer relações com
associações, instituições e organizações não governamentais, mesmo fora da
Igreja Católica, comprometidas com a promoção da justiça e da paz.
O nome do novo organismo tem a designação de Humanismo
Integral. Essa expressão remonta a obra de J. Maritain (1882-1973), literato e
filósofo francês convertido ao catolicismo. Para ele, o verdadeiro humanismo
manifesta a grandeza criacional da pessoa, desenvolve suas forças internas e
transforma a realidade humana em caminhos para a liberdade.
Na Encíclica Caritas
in veritate (CV), Bento XVI considerou o humanismo integral nessa mesma
direção, levando a compreender que a adesão aos valores do cristianismo é um
elemento útil e mesmo indispensável para a construção da sociedade (CV 4), pois
a Igreja quando anuncia, celebra e atua na caridade, tende a promover o
desenvolvimento integral do ser humano (CV 9). A vocação cristã a tal
desenvolvimento compreende tanto o plano natural como o plano sobrenatural, não
sendo suficiente progredir apenas do ponto de vista econômico e tecnológico.
Afirma Francisco, na Laudato Si’ (LS), que as diretrizes para a solução de nossa crise
socioambiental requerem uma abordagem integral para combater a pobreza,
devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza (LS
139), em vista do bem comum que desempenha um papel central e unificador na
ética social (LS 156). O bem comum pressupõe o respeito pela pessoa humana
enquanto tal, com direitos fundamentais e inalienáveis orientados para o seu
desenvolvimento integral (LS 157). Uma ecologia integral exige que se dedique
algum tempo para recuperar a harmonia serena com a criação, refletir sobre o
nosso estilo de vida e os nossos ideais, contemplar o Criador, que vive entre
nós e se manifesta naquilo que nos rodeia (LS 225). Uma ecologia integral é
feita também de simples gestos cotidianos, pelos quais quebramos a lógica da
violência, da exploração, do egoísmo (LS 230).
Chamemos de humanismo integral ou ecologia integral, o
que importa é a visão que o Papa Francisco deseja manifestar com esse novo Dicastério.
O cristão está sim na sociedade, não é separado, participa de tudo, vive tudo,
envolve-se em todos os ambientes e não se coloca acima ou fora da realidade,
mas vive intensamente o cotidiano. É melhor correr o risco de se sujar com a
realidade do que viver distanciado dela. Quanto mais entramos nos dramas
sociais, mais entenderemos que Deus se fez homem e veio nos trazer um humanismo
ou uma ecologia integral.
Jornal "O São Paulo", edição 3169, 4 a 10 de outubro de 2017.
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