Veja no final do texto as leituras sugeridas para aprofundamento
A primeira Conferência da ONU sobre Meio
Ambiente aconteceu em 1972. Mas antes, em 1971, na Octagesima Adveniens (OA), Paulo VI já advertia para os perigos da
poluição e a necessidade de conservar o planeta para as gerações futuras (OA
21).
Na década de 1960, culpou-se a
mentalidade judaico-cristã pelas agressões ao meio ambiente. Dizia-se que o
mandamento bíblico para que o homem dominasse a terra (cf. Gn 1, 28) fora a
justificação ideológica para o desrespeito ao meio ambiente. O Papa Francisco,
na Laudato si’ (LS 67ss) mostrou que
essa é uma leitura errada da Bíblia, pois ali também está escrito que o homem
deve “guardar e cultivar a terra” (cf. Gn 2, 15). O homem deve “dominar”
cuidando com amor. O pecado é a causa de nossa convivência predatória para com
a natureza e com nossos irmãos (LS 2).
Sem usar palavras como ecologia e meio
ambiente, o cristianismo – bem compreendido e autenticamente vivido – desde
sempre teve uma postura de maravilhamento e respeito diante da criação. São
Paulo reconhece a unidade profunda entre nós e tudo que existe ao dizer que a
criação, junto conosco, “geme e sofre as dores do parto” esperando a redenção
definitiva (Ro 8, 22).
Os Padres da Igreja, nos primeiros
séculos do cristianismo, enfatizaram que toda a criação era boa, um sinal do
amor de Deus, e deveria despertar o maravilhamento e a responsabilidade em nós.
São João Crisóstomo (ca. 347-407), por exemplo, já dizia que os animais e
plantas, mesmo os aparentemente inúteis para o homem, são intrinsicamente bons,
pois são obra da bondade de Deus – e como tal devem ser tratados.
Ao longo dos séculos, muitos homens e
mulheres de Deus se maravilharam e proclamaram a necessidade de respeitar a
natureza. São Francisco (1182-1226) é o mais conhecido, mas temos muitos
outros, como a índia norte-americana Santa Catarina Tekakwitha (1656-1680). No
Brasil, a diocese de Crato, por exemplo, vem resgatando as práticas de
conservação sugeridas pelo pe. Cícero (1844-1934).
Na Laudato
si’, o maravilhamento diante da bondade de Deus gera uma ética do cuidado,
onde responsabilidade e afeto se integram: “dizer ‘criação’ é mais do que dizer
natureza, porque tem a ver com um projeto do amor de Deus [...] A natureza
entende-se habitualmente como um sistema que se analisa, compreende e gere, mas
a criação só se pode conceber como um dom que vem das mãos abertas do Pai de
todos, como uma realidade iluminada pelo amor que nos chama a uma comunhão
universal” (LS 76).
Leituras sugeridas do Magistério:
FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato si’ sobre o cuidado da casa comum, Roma, 24
de maio de 2015. Disponível aqui. A ética do cuidado perpassa toda a encíclica, a começar pelo título.
Alguns trechos mais relevantes para o tema desse artigo:
oNo. 3-6. Pequeno histórico da questão ambiental nos
documentos atuais da Igreja.
oNo. 62-100. Trata da questão ambiental nas Escrituras.
Em particular, os Nº 67-68 falam da correta interpretação do Livro do Genesis e
os Nº 76-83 falam do “mistério do universo”.
oNº 216-246. Trata da “espiritualidade ecológica”.
PONTIFÍCIO
CONSELHO JUSTIÇA E PAZ. Compêndio de
Doutrina Social da Igreja. Nº 451-487. Roma, 2004. Disponível aqui.
Faz um apanhado do Magistério sobre o tema ambiental até o Pontificado de João
Paulo II.
Outras
leituras sugeridas:
CATHOLIC ECOLOGY. Reflecting
on blessed Kateri Tekakwitha. Disponível aqui. O site conta um pouco da história dessa jovem, primeira índia a ser
declarada santa, que os países de língua inglesa estão colocando como padroeira
da ecologia, ao lado de São Francisco de Assis. Em inglês.
DIOCESE DE CRATO.
Preceitos ecológicos do Pe. Cícero. Disponível aqui. Uma leitura particularmente interessante dentro dessa Campanha da
Fraternidade que fala sobre a conservação da natureza, considerando o processo
de recuperação da memória do Pe. Cícero que está sendo realizado pela Igreja no
Brasil.
KINDIY, O. Patrology, Ecology, and Eschatology:
Looking Forward to the Future of the Planet by Looking Back to the Fathers of
the Church. Logos: A Journal of Eastern
Christian Studies, 55 (3–4): p. 303–327, 2014. Disponível aqui. Apresenta as bases da reflexão teológica cristã sobre
a natureza nos Padres da Igreja e ainda discute a chamada ecoteologia na
perspectiva das hermenêuticas da ruptura e da continuidade. Apesar de ser em
inglês, é leitura obrigatória para quem quer se aprofundar no tema.
RIBEIRO NETO, F.B.
O diálogo entre catolicismo e ambientalismo a partir da Laudato si’. Revista eclesiástica brasileira, Petrópolis, 76 (301):
p. 8-23, Jan /Mar 2016. Disponível aqui.
Traz um apanhado das agressões ao meio ambiente em diferentes culturas e
períodos históricos, além de sintetizar o debate entre a encíclica do Papa
Francisco e os movimentos ambientais.
Francisco Borba Ribeiro Neto
Jornal “O São Paulo”, edição 3139, 22 de fevereiro a 2 de março de 2017
Jornal “O São Paulo”, edição 3139, 22 de fevereiro a 2 de março de 2017
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