Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Ivanaldo Santos é doutor em filosofia e professor do Departamento de Filosofia do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERN.
Atualmente, a sociedade presencia um dos fenômenos mais
surpreendentes da história da humanidade. Trata-se do envelhecimento da
população. O ser humano vive cada vez mais. A longevidade já não é mais uma
exceção, mas uma experiência real. Apenas para ser ter uma dimensão da questão
da longevidade, atualmente no Japão já é possível se viver entre 100 e 104
anos. A perspectiva é que uma criança nascida na Alemanha, a partir de 2016,
viverá mais de 100 anos.
No entanto, em grande parte da história da humanidade poucos
indivíduos chegaram à casa dos 60 ou 70 anos. Por exemplo, uma mulher no século
III d. C., no período da decadência do Império Romano, com 18 anos já tinha 3
ou 4 filhos, com 30 anos, essa mesma mulher, provavelmente já tinha netos, era
considerada velha e estava se preparando para morrer. Esse fato não é isolado.
Ele se repetiu por quase toda a história universal.
A partir do século XVIII, por diversos fatores históricos,
lentamente a média de vida vai aumentando. Passou-se de 30 anos para 40 ou 50
anos. Ao final do século XX, nos países desenvolvidos, esse aumento chega a uma
média de 75 a 80 anos. Em muitas regiões vive-se, com facilidade, 90 ou 100
anos. Além disso, a ciência está
anunciando uma nova geração de remédios, o fim de várias doenças, a cura para
doenças que, até o momento, são incuráveis, as empresas privadas e os Estados estão
anunciando novos benefícios para a população. Com tudo isso, a expectativa é
que a média de vida da população do planeta aumente para quase 110 anos.
É a primeira vez na história da humanidade que, de forma
geral, a população poderá viver 100 anos ou até mais tempo. Estamos diante de
uma grande revolução no campo da longevidade. No entanto, essa ótima notícia
traz uma série de problemas para serem enfrentados, como, por exemplo, o
problema da previdência e da aposentadoria, a questão do emprego para as novas
gerações, reformas profundas na infraestrutura urbana, novo modelo de educação
e leis que protejam a pessoa idosa.
Dentro desse debate emerge, com força, o papel da Igreja
Católica. Em todo o mundo a Igreja tem sido uma grande protagonista na defesa,
na promoção e na proteção da dignidade da pessoa idosa. Por meio da Pastoral da
Terceira Idade e de outros organismos eclesiais, a Igreja tem promovido um
processo de inclusão social e tem sido um espaço de acolhimento da pessoa
idosa.
No entanto, é necessário ter consciência que os desafios e
problemas causados pela longevidade não serão resolvidos apenas, de forma
isolada, pelo Estado, por algum partido político ou outra organização social. Neste
contexto, a Igreja é convocada a ser a mãe e gestora de políticas e ações que
possam garantir a dignidade da pessoa idosa. A primeira grande ação da Igreja é
promover – coisa que já acontece – a participação da pessoa idosa dentro da
Igreja. Essa participação poderá acontecer, por exemplo, por meio das pastorais,
de peregrinações a santuários e muito mais. A segunda grande ação é a Igreja
ser a instituição que promova a educação para o envelhecimento, um novo modelo
de educação que, desde a criança, prepare o cidadão para os desafios e os
benefícios do envelhecimento. Não basta envelhecer. É necessário saber
envelhecer, ter um projeto de vida que leve em consideração que, em tese,
poderá se chegar a viver mais de 100 anos. Neste caso, o que se fazer com a
vida? Nas próximas décadas a Igreja deverá ajudar aos cidadãos e a humanidade a
encontrar uma saudável resposta para essa pergunta.
Jornal "O São Paulo", edição 3138, 15 a 21 de
fevereiro de 2017.
Trata-se de um tema importante que teria muito a ganhar com referências mais concretas à Carta aos Anciãos de São João Paulo II.
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