Diante do artigo de W. Balera (O clima e o final dos tempos), recém-publicado nessa coluna, alguns
perguntaram se o aquecimento global não seria incerto e discutível, inadequado
ao magistério da Igreja. Ora, um tema totalmente consensual pouco necessita de exortações,
a maioria dos pontos da doutrina social católica são tomadas de posição diante
de questões polêmicas.
Para os norte-americanos, a questão climática se
tornou partidária principalmente depois que Al Gore, candidato democrata à
presidência derrotado em 2000, foi um dos ganhadores do Nobel da Paz em 2007
por sua militância pela redução dos gases que causam o aquecimento global, o
principal dos quais é o gás carbônico (CO2). Desde então, a oposição
dos republicanos à redução desses gases – que existia em por razões econômicas
– se tornou sistemática.
Agir com prudência, na visão católica, significa agir
com decisão e responsabilidade em prol do bem comum (Compêndio de Doutrina
Social da Igreja, CDSI 547ss). Para isso, deve-se buscar uma visão totalizante,
que supere os partidarismos.
O aquecimento global tem considerável base científica.
A maioria dos especialistas considera que existem evidências suficientes de um
aumento gradativo da temperatura do planeta, com graves consequências para o
modo de vida das populações. E é bem documentado o efeito de retenção de calor do
CO2, cuja concentração está aumentando na atmosfera em consequência
da poluição.
O consenso pode não ser total, mas o compromisso dos
países do G-20 quanto a essa questão mostra a solidez da posição defendida pelo
Papa Francisco na Laudato si’ (LS
23ss): apenas os Estados Unidos não têm se comprometido com uma redução
drástica das emissões de CO2.
Os que questionam esse consenso, se baseiam nas
observações, reconhecidas pela comunidade científica, de que houveram aumentos
da temperatura do planeta – associadas com aumentos da concentração de CO2
na atmosfera – em períodos anteriores à existência do ser humano na
Terra. Portanto, esse fenômeno ocorre também de forma natural. O que não
consideram é que a ação humana pode combinar-se com as causas naturais,
tornando o problema muito mais grave.
Por isso, a doutrina social da Igreja julga a questão
climática segundo o princípio da precaução: devemos diminuir a emissão dos
gases que causam o aquecimento global, mesmo que seja só para evitar o risco de
piorar uma ameaça natural (CDSI 469).
Nesse caso, ser prudente significa investir em fontes
alternativas de energia, que reduzam a emissão de CO2 e gases
semelhantes.
Francisco Borba Ribeiro Neto
Jornal "O São Paulo", edição 3160,2 a 8 de agosto de 2017.
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