A Doutrina
Social da Igreja (DSI) constitui um corpus de escritos – Constituições e
Exortações Apostólicas, Cartas Encíclicas, Decretos e Declarações, e outros
documentos – que versa sobre a questão social. Por “questão social” entende-se
o conjunto de problemas que afetam o nível de vida das pessoas, famílias ou
comunidades.
Esse “corpus
de escritos” inaugura-se com a publicação, pelo Papa Leão XIII, da Carta
Encíclica Rerum Novarum, em maio de 1891. O contexto histórico era o da
Revolução Industrial, com suas consequências e implicações para a vida dos
trabalhadores e famílias. As turbulências desse período, marcado pelo
surgimento da máquina, do movimento e da produção em grande escala, trouxeram
mudanças positivas e negativas para a sociedade. Alguns benefícios se
consolidaram, enquanto grande número de pessoas ficou à margem do progresso
tecnológico. Viu-se que tal progresso e o crescimento econômico, por si só, não
conduziam a um “desenvolvimento integral”, conforme a expressão de Paulo VI.
As
transformações sociais iriam mostrar que a DSI não pode ser um conjunto de
verdades definitivas e acabadas, a serem transmitidas à posteridade. Nasce o
debate entre doutrina e ensinamento. Enquanto o conceito de doutrina denota uma
série de dogmas fechados, definidos e imutáveis, o termo ensinamento mantém um
caráter aberto, dinâmico e flexível. A primeira cria uma espécie de instância
hermética de princípios pétreos e cristalizados, válidos para todos os tempos e
lugares. O segundo, atento aos “sinais dos tempos”, comporta-se como um
organismo vivo: é capaz de incorporar os novos desafios que históricos e, ao
mesmo tempo, rejeitar o que se tornou anacrônico ou fossilizado.
Paulo VI, na
Carta Encíclica Octogesima Adveniens, de 1971, ilustra essa mudança de enfoque:
“Com todo o seu dinamismo, o ensinamento social da Igreja acompanha os homens
na sua busca (...). Desenvolve-se por meio da reflexão, amadurecida no contato
com as situações dinâmicas deste mundo, sob o incentivo do Evangelho, como
fonte de renovação, desde o momento em que sua mensagem é aceita na plenitude
de suas exigências. Desenvolve-se com a sensibilidade própria da Igreja,
marcada pela vontade desinteressada de serviço e atenção aos mais pobres;
finalmente, alimenta-se de uma rica experiência multissecular, que lhe permite
assumir, na continuidade de suas preocupações permanentes, as inovações
atrevidas e criativas que a situação presente no mundo exige” (OA, n. 42).
Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
Jornal "O São Paulo", edição 3161, 9 a 15 de agosto de 2017.
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