Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Fernando Gregianin Testa é professor de Filosofia no Centro Universitário Ítalo-Brasileiro, tem bacharelado em Engenharia Eletrônica pela UFRGS com experiência em desenvolvimento de sistemas de telecomunicações e mestre em Ciências da Religião pela PUC-SP.
Qualquer um concordará que as Tecnologias de Informação e
Comunicação, abreviada como TIC, forneceram novos instrumentos para nos
comunicarmos e desenvolvermos as mais variadas atividades. Contudo, há mais
coisa acontecendo além da proliferação de dispositivos bacanas para comprarmos ou
da carta substituída pelo e-mail. A lista das atividades que envolvem TIC cresce
a cada dia. Vejamos alguns exemplos.
A imagem de engravatados estressados com telefone na mão,
gritando uns para os outros fechando compras e vendas de ações em bolsa de
valores é coisa do passado. Estima-se que a maioria desse tipo de transações
sejam feitas por máquinas – alguns alegam até 73%. Essas, baseadas em regras e
códigos predefinidos, tomam a “decisão” de comprar ou vender ações sem
intervenção humana.
Outro exemplo no setor econômico é o M-Pesa. Com ele, a
compra de verduras na feira é feita através de uma troca de mensagens pelo
celular onde o crédito é enviado diretamente ao vendedor que pode sacá-lo em
dinheiro nas lojas autorizadas. Com a facilidade da transação e o aumento da
segurança, a utilização do serviço decolou, somando aproximadamente 8.4 bilhões
de dólares em depósitos, em 2012, somente no Quênia, onde o serviço foi
primeiramente lançado em 2007 e depois exportado para outros países.
A revista Forbes noticiou recentemente um caso curioso de
análise automática de dados de consumidores foi quando, baseado no perfil de
compras, a empresa de vendas online Target enviou cupons de desconto de roupas
de bebê e berços para uma jovem consumidora. O pai protestou, dizendo que
estavam induzindo a filha, ainda uma colegial, a ficar grávida. Aconteceu que a
Target estava correta em sua previsão de gravidez e o pai é que desconhecia
alguns fatos.
Não é necessário ir para pesquisa de ponta, tal como o
grande acelerador de partículas em Genebra, o LHC, com
seus 30 Petabytes anuais de dados para notar que praticamente qualquer pesquisa
científica está direta ou indiretamente envolvida com computação. Pesquisa
científica e atividade industrial dependem de computadores e até a agricultura
está se tornando agro-tech. Em 2012, estimou-se que o número de dispositivos
conectados online era 8.5 bilhões e projetou-se que serão 50 bilhões para o ano
2050. Atualmente o “Contador de dispositivos online” na Internet indica mais de
15 bilhões.
Praticamente, toda a economia depende, hoje, das TICs e o
processo que está em curso é irreversível e acelerado. Trata-se somente de uma
maior disponibilidade de ferramentas, algo circunstancial às questões
importantes, ou ele efetivamente altera a condição humana? Quando a agricultura
foi inventada, o homem se tornou sedentário e sua forma de viver mudou
radicalmente. Quando surgiu a máquina a vapor, a revolução industrial mudou a
figura econômica e social da Europa. Algo análogo aconteceu com a invenção da
imprensa após Gutenberg. É de se esperar que, com a presença ubíqua das TICs na
vida humana, uma outra alteração profunda está em curso com seus ganhos e
perdas. Acredito que há mais a se ganhar, mas compreender o fenômeno do ponto
de vista filosófico, ético e inclusive teológico, é urgente para discernir o
joio do trigo.
Jornal “O São Paulo”, edição 3053, de 27 de maio a 2 de
junho de 2015.
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Fernando, parabéns pelo texto. Muito interessante e leve, ajudou a pensar, mesmo sendo sobre um tema as vezes árido...
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