Ana Lydia Sawaya é professora titular
de Fisiologia da UNIFESP - campus São Paulo e é conselheira do Núcleo Fé e
Cultura da PUC-SP.
Quem negará que o país está vivendo um momento de grande transformação?
Mudanças radicais na política, grandes mobilizações sociais com milhões de
pessoas nas ruas, quer para protestar contra um governo, quer para se divertir
e pular o carnaval. Até o carnaval está mudando! Quem diria milhões de pessoas
organizando blocos?
A vida não é mais “a mesma de sempre”, e é cada vez menos
privada ou individual. Há um desejo claro, um anseio comum de se encontrar, se
comunicar, de lutar ou viver junto com os outros. Imaginar que cada um ia se
enfurnar atrás do seu computador solitariamente como muita gente dizia a um
tempo atrás, não representa uma percepção correta, pois a realidade está indo
na direção oposta.
Mas para onde? Por que? O que
estamos buscando? Ainda parece pouco claro. Outra demonstração dessa
transformação em ato é que a maioria das pessoas não sabe em quem votar, e não
só porque não há mais esquerda ou direita. Tudo parece fluído, mas não o desejo
das pessoas que cresce e se mobiliza. A cidade tem-se tornado cada vez mais um
espaço público e de convivência.
A percepção da importância da
política cresceu em todas as camadas sociais, assim como o desejo de se
divertir, ver ou fazer coisas bonitas como as belas fantasias de carnaval, ou
as bandas que tocam música de fim de semana na Avenida Paulista. Há os excessos,
mas estes não parecem ser a regra.
E a igreja como a instituição
mais antiga, com uma história milenar, tem algo a dizer para ajudar as pessoas?
E Cristo seu fundador, como está presente? Sabemos que Ele não morreu, mas vive
conosco para sempre, pois é o Deus Emanuel. Mas o que Ele nos diria agora?
Precisamos de profetas! Pois são
eles que ouvem o Senhor e nos comunicam suas palavras. Nós cristãos sabemos que
são eles, os santos de cada época que indicam a estrada do novo, como aconteceu
com os mosteiros e a reconstrução da Europa, ou as ordens mendicantes e a
mudança da sociedade medieval para as cidades.
Estamos iniciando a quaresma e este é um momento
privilegiado para rezar, ouvir com atenção o que o “Espírito fala às Igrejas”,
viver a caridade e a atenção aos outros e ser vigilante e atento no uso das
coisas materiais. Estes são instrumentos que a sabedoria da Igreja entrega na
mão de cada um de nós indicando que cada um tem um coração ao qual o Senhor
fala. É o momento mais propício do ano para que cada um possa dizer em seu
coração como o profeta ainda menino: “Senhor fala que o teu servo escuta”. E
não esqueçamos que a Igreja está pedindo que todos reflitamos e nos engajemos
até em atividades concretas para fazer frente à violência que assola o nosso
país.
“Hoje não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor”,
nos diz a antífona de quaresma.
Um momento de grande transformação exige muita reflexão e
escuta!
Jornal "O São Paulo", edição 3187, 21 a 27 de
fevereiro de 2018.
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