Leo Pessini
Cada época histórica da humanidade é marcada por certas
“palavras chaves” que se tornam uma espécie chave para a compreensão daquele
momento, no aspecto cultural, socioeconômico e político. Os historiadores,
antropólogos e arqueólogos, dividem a chamada pré-história humana em três
períodos consecutivos, segundo o método de manufatura de ferramentas,
utensílios e armas da época. Temos assim a chamada idade da Pedra, ou período
neolítico (6 mil a.C. a 2.5 mil a. C), seguiu-se a idade do bronze (Oriente Médio,
2.300 a.C.), com o desenvolvimento de uma liga metálica, resultante da
combinação de cobre (descoberto em torno de 6500 a.C.) com o estanho; e
finalmente a idade do ferro (de 1200 a.C. a 550 a.C.), quando surge a
metalurgia do ferro, embora os primeiros indícios de utilização do ferro são de
3200 a.C.
Hoje, vivemos a chamada época do “Bios”, que teve início com a descoberta da dupla hélice do DNA
(Watson e Crick, em 1953) que inaugurou entre nós a chamada “era genômica”,
como uma instigante novidade, singular atrativo do progresso técnico
cientifico, com promessas de “revoluções milagrosas”, mas também trazendo
serias questões e inquietudes relacionadas com o futuro da vida no planeta e o
quanto não ficará manipulável e vulnerável a identidade do ser humano neste
contexto. Os economistas afirmam que a “biotecnologia” será o carro chefe da
economia neste século XXI. E a ladainha do novo dicionário de palavras que se
inspira em “bios” aumenta muito rapidamente: biologia, biogenética,
biogenômica, bioterrorismo, bio erro, biopoder, bioestatística,
biocombustíveis, biodiesel, biodegradáveis (Produtos), biogerontologia,
biodiversidade, biociência, bioenergética, bioenergia, bioengenharia,
bioequivalência, bioestatística, biofísica, bioinformática e tantas outras.
Nesta contemporaneidade marcada pelo reinado do “bios”,
apresenta-se também a mentalidade ou ideologia dos “pós tudo” .... Enfim,
vivendo num momento de mudança de época, mais que de uma época de mudanças,
falamos de: pós modernidade, pós-humanismo, pós- cristianismo, pós-genômica, e
agora também, pasmem senhores, algo um tanto mais sofisticado e sutil, a “era
da pós-verdade”! O que seria isto? Como atinge as nossas vidas? Veremos no
próximo texto que segue a este.
Em meio a este cipoal de neologismos que se ligam a raiz “bios” e ao prefixo “pós”, que nomeiam novos processos de pesquisa e conhecimento que dão
nomes a novos produtos, descobertas, e épocas históricas, emerge uma novidade! Ainda de uma maneira tímida, esta novidade aos
poucos vai ganhando maior visibilidade e sendo valorizada, como uma necessidade
em todos os âmbitos da vida, desde o nível pessoal até o cósmico ecológico.
Trata-se do surgimento do neologismo “bioética”.
Na perspectiva de um dos seus pioneiros, o bioquímico norte-americano, pesquisador
no âmbito da biologia molecular, V. R. Potter (1911-2001), bioética seria a “ponte para o futuro” e também “ciência da sobrevivência” ou “moralidade da sobrevivência humana”
(1970). Estamos sem dúvida alguma diante de um lance de esperança para humanidade
em termos de humanização do progresso tecno científico, proteção do meio
ambiente (ecologia), enfim de valorização da “vida e da ética”, ou de uma
“ética da vida”, como sendo definida como “sabedoria humana”, ou seja, o
conhecimento de como utilizar o conhecimento para a proteção da dignidade do
ser humano, promoção do bem social e vida cósmico-ecológica.
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