Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Angela Vidal Gandra Martins é Doutora
em Filosofia do Direito (UFRGS)/ Sócia Advocacia Gandra Martins/Membro da
Academia Brasileira de Filosofia.
A celebração do dia da Mulher é sempre
uma ocasião de reflexão sobre o seu papel e o motivo pelo qual é destacada....
De fato, não há o dia do homem.... Há, portanto, uma diferença antropológica
natural, ainda que goze da igualdade de direitos e oportunidades devida a cada
ser humano.
Pensando no que queria compartilhar em
torno desse dia, deparei-me com um texto de Fulton Sheen, filósofo americano
muito profundo, mas prático, que, embora longo, gostaria de transcrever: “Imagine
uma orquestra no palco diante de um maestro famoso que regerá uma linda
sinfonia composta por ele mesmo. Cada membro da orquestra é livre para seguir o
maestro e assim contribuir para a harmonia. Mas cada membro é também livre para
desobedecer ao maestro. Suponha que algum dos músicos deliberadamente toque uma
nota falsa e induza a violinista ao lado a fazer o mesmo. Ouvindo o desafino, o
maestro poderia seguir duas alternativas: levantar a batuta e ordenar que
recomeçassem a tocar ou ignorar o acorde destoante. De qualquer forma, sua
atitude não faria nenhuma diferença visto que aquele acorde já foi para o espaço
atingindo uma altura de mil e cem pés por segundo, seguindo adiante e afetando
a infinitesimal pequena radiação do universo. Como uma pedra caída no lago
causa uma ondulação que afeta a mais distante zona costeira, esse acorde afeta
até mesmo as estrelas...Em algum lugar nesse universo de Deus soará essa
desarmonia”.
Como a filosofia deseja estudar o mais profundo do ser, é
óbvio que deve abrir-se à realidade tal como é intrinsecamente - the way things are -, como expressa o
jusfilósofo Lon Fuller. Nesse sentido, li também recentemente uma narrativa em
um periódico australiano que contava a história em quadrinhos de um pato que
quis fazer uma operação para tornar-se ganso...
Partindo desses exemplos gráficos como inspiração, pensava
em como a sociedade poderia ser se a mulher vivesse como tal; fosse respeitada
como tal; amasse como tal; vivesse seu
destino antropológico maternal como tal; se lhe fosse totalmente permitida a
prestação de sua original contribuição profissional em harmônica somatória de
luzes; se se fizesse valer pelo que é, sem comparações e oposições, mas sim
através da afirmação e maximização de sua unicidade feminina..., ou seja, se cada mulher se
decide a viver com profundidade seu papel na sinfonia sendo simplesmente e
totalmente mulher e trazendo sonora
harmonia a toda sociedade através de sua contribuição única...
Utopia? Definitivamente não, já que a força da natureza - a
força do ser! - é infinitamente maior do que a do não ser. Parabenizo, portanto
a cada mulher por suas lutas positivas, convidando também a cada uma, e também
a toda comunidade masculina, a refletir em como vivem - identidade -, e
oferecem o espaço - reconhecimento - para que cada mulher seja cultivada e possa
se realizar plenamente como tal, de forma que seus acordes harmonizem novamente
a sociedade ecoando perenemente através do espaço e dos tempos.
Jornal "O São Paulo", edição 3190, 14 a 20 de
março de 2018.
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