Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Ana Lydia Sawaya é professora titular de Fisiologia da UNIFESP - campus São Paulo e é conselheira do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
Há séculos a filosofia política estabeleceu uma confiança maior no Estado do que na pessoa. Nas vertentes autoritárias, isso justificou muitas das modernas ditaduras. Nas vertentes liberais, levou a uma confiança desmedida nas leis, como se a letra escrita fosse suficiente para criar a justiça na prática. É mais fácil pensar no ser humano como mau, egoísta ou incapaz de bem; e acreditar que toda vez que ele tiver oportunidade desfrutará, usurpará e tornar-se-á lobo do seu irmão. É muito difícil, hoje em dia, pensar que possa não ser assim. Essa visão negativa do ser humano está na origem da confiança no Estado (por vezes, absoluta!) como única garantia do bem e da justiça.
Há séculos a filosofia política estabeleceu uma confiança maior no Estado do que na pessoa. Nas vertentes autoritárias, isso justificou muitas das modernas ditaduras. Nas vertentes liberais, levou a uma confiança desmedida nas leis, como se a letra escrita fosse suficiente para criar a justiça na prática. É mais fácil pensar no ser humano como mau, egoísta ou incapaz de bem; e acreditar que toda vez que ele tiver oportunidade desfrutará, usurpará e tornar-se-á lobo do seu irmão. É muito difícil, hoje em dia, pensar que possa não ser assim. Essa visão negativa do ser humano está na origem da confiança no Estado (por vezes, absoluta!) como única garantia do bem e da justiça.
Mas esta não é uma visão cristã. A Doutrina Social da Igreja
parte de outra visão antropológica e não abandona a confiança no ser humano
como única origem real de mudança. Os cristãos sabem que a solução verdadeira
para o bem comum é a religiosidade autentica e o amor ao próximo que brotam do
coração do ser humano e não, antes de tudo, do controle do Estado. É verdade
que o mal nasce no coração do ser humano, mas o bem também nasce nesse mesmo
coração. Por isso, a Doutrina Social da Igreja tem como ponto de partida a
centralidade, unidade e liberdade da pessoa. Diz que devemos partir da pessoa e
de suas livres agregações antes que do Estado. É por isso que valoriza, antes
de tudo, a família e os corpos sociais intermediários (as associações civis).
É absolutamente urgente e fundamental que nós católicos
conheçamos e estudemos a Doutrina Social da Igreja. Esta é a nossa melhor
contribuição para o país: que os católicos brasileiros ofereçam a todos a
sabedoria de sua tradição. Se não o fizermos, quem o fará? Os brasileiros podem
estar assim fadados a conhecer (e acreditar) somente em outras visões
antropológicas, tão amplamente difundidas nas escolas brasileiras.
O Papa Francisco disse recentemente que o católico precisa
se envolver com política e reafirmou que a política é a forma mais alta de
caridade. O exercício da política vivida de forma cristã tem como ação o cuidar
de todos e não só de si mesmo. Todos sabemos que nossos políticos atuais estão
no espectro oposto ao que a tradição cristã entende como real ação política.
Mas, e isso também é o fundamento da fé cristã, não podemos nem devemos nos
resignar. Não há nada mais distante de Cristo do que a posição fatalista,
negligente ou niilista.
Por fim, a Doutrina Social da Igreja diz que o caminho para
o bem comum é reforçar a sociedade e não agigantar o Estado (como infelizmente
ocorreu no Brasil).
“A comunidade política e a sociedade civil, embora
reciprocamente coligadas e interdependentes, não são iguais na hierarquia dos
fins. A comunidade política está essencialmente a serviço da sociedade civil e,
em última análise, das pessoas e dos grupos que a compõem. Portanto, a
sociedade civil não pode ser considerada um apêndice ou uma variável da
comunidade política: pelo contrário, ela tem preeminência” ( Compêndio da
Doutrina Social da Igreja, CDSI 418).
E ainda, “o Estado tem o dever de secundar a atividade das
empresas, criando condições que garantam ocasiões de trabalho, estimulando-a onde
for insuficiente e apoiando-a nos momentos de crise” (CDSI 351). (...) “uma
intervenção direta (do Estado) excessivamente açambarcadora acaba por
desresponsabilizar os cidadãos e produz um crescimento excessivo de aparatos
públicos guiados mais por lógicas burocráticas do que pela preocupação de
satisfazer as necessidades das pessoas” (CDSI 354).
Está é a mudança que o Brasil precisa urgentemente.
Jornal "O São Paulo", edição 3155, 14 a 20 de
junho de 2017.
Muito bom o artigo!
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