Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Alexandre Ribeiro é doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e editor de Aleteia.org.
O site UpWorthy foi um dos primeiros a discutir abertamente o conceito de viralização de conteúdos nas redes sociais. Já em 2012, o website publicou um documento que falava de uma suposta “ciência da viralização”.
O site UpWorthy foi um dos primeiros a discutir abertamente o conceito de viralização de conteúdos nas redes sociais. Já em 2012, o website publicou um documento que falava de uma suposta “ciência da viralização”.
O UpWorthy afirma que a viralização deve ser parte da
dinâmica de valorização de conteúdos de qualidade na Internet. Não se trata,
portanto, de conquistar audiência a qualquer custo. Mas sim de integrar a ideia
de viralização ao processo de elaboração de conteúdos de mídia digital.
Viralizar um conteúdo não se resume à sorte de ver uma
publicação ultrapassar os padrões médios de leitura e compartilhamento,
alcançando milhões de leitores. A viralização seria, na verdade, uma
propriedade intrínseca dos conteúdos formatados para as mídias digitais. Ela
deve permear todo o processo comunicativo. Desde a otimização do site, que se
volta para a sociabilidade virtual, à seleção do conteúdo, estilo e “packaging”
(“embalagem”) de distribuição.
O UpWorthy afirma que uma viralização depende de três
elementos essenciais: conteúdo, enquadramento e compartilhamento.
Conteúdo - O primeiro passo é selecionar ou criar um bom
conteúdo. Um bom conteúdo significa que é épico e tem elementos como: herói,
vilão, emoção, significado valoroso e inspirador, timing. É ainda um conteúdo
bem produzido, que traz informação útil e às vezes surpreendente; um conteúdo
de valor, que toque a audiência de forma humana.
Enquadramento - O conteúdo deve ser formatado e enquadrado
perfeitamente para o Facebook ou uma outra grande rede social. O título deve
despertar curiosidade. O UpWorthy diz que os seus redatores chegam a escrever
25 títulos antes de definir qual irá no artigo. O título deve seguir algumas
diretrizes, como: não dizer tudo; não dizer nada; não ser incômodo (favorecer
que o usuário forme sua própria opinião); ser inteligente, mas acessível; e,
acima de tudo, despertar a curiosidade.
Compartilhamento - Os usuários clicam e compartilham
conteúdos que despertam neles uma destas duas reações: indignação ou
felicidade. Por outro lado, deve-se evitar provocar tristeza ou relaxamento.
O método do UpWorthy revela a ênfase em procedimentos
circunscritos ao âmbito de predeterminação da viralização. Condições iniciais
favoráveis, como as que o website exercita colocar em suas publicações,
aumentariam a probabilidade de um post viralizar. O UpWorthy foi bem sucedido
em propor um diagrama de certas condições iniciais que aumentam a probabilidade
de seus conteúdos viralizarem.
Mas isso não implica necessariamente a efetivação da
viralização. Afinal, esta depende de muitas outras variáveis, sendo algumas
delas impossíveis de medir, como, por exemplo, as escalas reais de distribuição
de conteúdo pelo algoritmo do Facebook e de outras redes sociais em determinado
momento, ou ainda a possibilidade de um influencer (uma celebridade, por
exemplo) compartilhar o conteúdo, fortalecendo sua repercussão.
Além disso, o caráter preditivo do elemento viral deve-se
inserir numa concepção científica de sociabilidade virtual. A predição
científica não é uma profecia, mas sim o trabalho de elaborar teorias que
tenham fundamento em informações fidedignas relacionadas ao estado de coisas
atual ou passado. Isso exige o esforço constante de se colocar à prova
hipóteses e se extrair tendências gerais que possam levar um bom conteúdo a uma
ampla audiência.
Jornal "O São Paulo", edição 3156, 21 a 27 de
junho de 2017.
Nenhum comentário:
Postar um comentário