segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O humanismo cristão no século XXI

Ilustração: Sergio Ricciuto Conte

Ivanaldo Santos é doutor em filosofia e professor do Departamento de Filosofia do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERN.

No período de 06 a 08 de outubro aconteceu em São Paulo, nas dependências da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o III Congresso Latino-Americano Jacques Maritain. Um congresso promovido pelos Institutos Jacques Maritian da América do Sul. O evento foi um marco nas discussões sobre as interpretações da obra do pensador francês Jacques Maritain, mas também nos debates sobre os problemas contemporâneos, especialmente a defesa da vida e da dignidade da pessoa humana.
De um lado, Jacques Maritain, um dos maiores convertidos do século XX, dentro de um cenário marcado pelo terror, pela burocracia e pela cultura da morte, ou seja, as primeiras décadas do século XX, desenvolveu a teoria do humanismo integral. Um humanismo que, num primeiro momento, se abre para Deus, para a transcendência, para a vida mística e para as mais elevadas formas de cultura (arte, música, etc.), mas, logo em seguida, num segundo momento, conduz o ser humano para o respeito à vida e a dignidade da pessoa humana. O humanismo integral foi fundamental para, em 1948, ser aprovada pela ONU a Declaração Universal dos Direitos Humanos. O humanismo integral foi um dos movimentos mais importantes do século XX, tanto dentro da Igreja como nos diversos segmentos que lutaram pela ética e pelos direitos humanos no mundo.
De forma preocupante o século XXI vê o desenvolvimento de uma série de políticas e ideologias que desrespeitam a vida humana. Entre essas políticas citam-se: a idolatria pelo Estado, o terrorismo, o abandono dos refugiados, a cultura da morte que se materializa na violência cotidiana, no aborto, na eutanásia e na pena de morte.
Dentro desse contexto, muito parecido com o que Maritain viveu nas primeiras décadas do século XX, a Igreja e os cristãos são convocados a, num primeiro instante, ter uma atitude de conversão, de busca genuína da vida mística, mas, não ficar preso a essa busca. Pelo contrário, num segundo momento, é necessário buscar edificar o homem integral, um modelo de homem que não é apenas material, mas também espiritual, artístico, educacional, ético e que, por isso, valoriza e respeita a dignidade da pessoa humana. O século XX foi o século da construção da teoria do homem integral. Já o século XXI precisa ser o século que os cristãos vão colocar em prática esse homem integral e, com isso, derrotar a cultura de morte e estabelecer o respeito a todas as formas e manifestações da dignidade da pessoa humana. Uma dignidade que se inicia com a concepção e só termina com a morte natural.
Por fim, afirma-se que, de um lado, o século XXI vive os mesmos dramas e angústias de todos os outros séculos da história da humanidade. Nesse sentido, isso representa o grande caminho da Igreja para lentamente ir construindo o Reino de Deus. No entanto, do outro lado, desde o século XX o ser humano tem aperfeiçoado, de forma perversa, a arte de matar e de infligir dor ao seu semelhante. O século XXI é a continuidade desse processo. Nesse sentido, o cristão é convocado a combater a morte, como lembra o Papa Francisco, com as armas da misericórdia e da valorização da dignidade da pessoa humana. Neste processo, a Igreja e os cristãos irão construir o humanismo integral no século XXI. 
Jornal "O São Paulo", edição 3126, 2 a 8 de novembro de 2016.

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