Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Ivanaldo Santos é doutor em filosofia e professor do Departamento de Filosofia do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERN.
No período de 06 a 08 de outubro aconteceu em São Paulo, nas dependências da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o III Congresso Latino-Americano Jacques Maritain. Um congresso promovido pelos Institutos Jacques Maritian da América do Sul. O evento foi um marco nas discussões sobre as interpretações da obra do pensador francês Jacques Maritain, mas também nos debates sobre os problemas contemporâneos, especialmente a defesa da vida e da dignidade da pessoa humana.
De um lado, Jacques Maritain, um dos maiores convertidos do
século XX, dentro de um cenário marcado pelo terror, pela burocracia e pela
cultura da morte, ou seja, as primeiras décadas do século XX, desenvolveu a teoria
do humanismo integral. Um humanismo que, num primeiro momento, se abre para
Deus, para a transcendência, para a vida mística e para as mais elevadas formas
de cultura (arte, música, etc.), mas, logo em seguida, num segundo momento,
conduz o ser humano para o respeito à vida e a dignidade da pessoa humana. O
humanismo integral foi fundamental para, em 1948, ser aprovada pela ONU a Declaração
Universal dos Direitos Humanos. O humanismo integral foi um dos movimentos mais
importantes do século XX, tanto dentro da Igreja como nos diversos segmentos
que lutaram pela ética e pelos direitos humanos no mundo.
De forma preocupante o século XXI vê o desenvolvimento de uma
série de políticas e ideologias que desrespeitam a vida humana. Entre essas políticas
citam-se: a idolatria pelo Estado, o terrorismo, o abandono dos refugiados, a cultura
da morte que se materializa na violência cotidiana, no aborto, na eutanásia e
na pena de morte.
Dentro desse contexto, muito parecido com o que Maritain
viveu nas primeiras décadas do século XX, a Igreja e os cristãos são convocados
a, num primeiro instante, ter uma atitude de conversão, de busca genuína da
vida mística, mas, não ficar preso a essa busca. Pelo contrário, num segundo
momento, é necessário buscar edificar o homem integral, um modelo de homem que
não é apenas material, mas também espiritual, artístico, educacional, ético e
que, por isso, valoriza e respeita a dignidade da pessoa humana. O século XX
foi o século da construção da teoria do homem integral. Já o século XXI precisa
ser o século que os cristãos vão colocar em prática esse homem integral e, com
isso, derrotar a cultura de morte e estabelecer o respeito a todas as formas e
manifestações da dignidade da pessoa humana. Uma dignidade que se inicia com a
concepção e só termina com a morte natural.
Por fim, afirma-se que, de um lado, o século XXI vive os
mesmos dramas e angústias de todos os outros séculos da história da humanidade.
Nesse sentido, isso representa o grande caminho da Igreja para lentamente ir
construindo o Reino de Deus. No entanto, do outro lado, desde o século XX o ser
humano tem aperfeiçoado, de forma perversa, a arte de matar e de infligir dor ao
seu semelhante. O século XXI é a continuidade desse processo. Nesse sentido, o
cristão é convocado a combater a morte, como lembra o Papa Francisco, com as
armas da misericórdia e da valorização da dignidade da pessoa humana. Neste
processo, a Igreja e os cristãos irão construir o humanismo integral no século
XXI.
Jornal "O São Paulo", edição 3126, 2 a 8 de novembro
de 2016.
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