Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
A PEC 241 está sendo proposta como uma medida imprescindível
para pôr o País nos trilhos. O equilíbrio das contas públicas seria condição sine
qua non para que o Brasil torne a crescer. A CNBB emitiu uma nota alertando que
essa medida “elege, para pagar a conta do descontrole dos gastos, os
trabalhadores e os pobres […]. Além disso, beneficia os detentores do capital
financeiro, quando não coloca teto para o pagamento de juros, não taxa grandes
fortunas e não propõe auditar a dívida pública”.
Nas últimas décadas, no mundo globalizado, a dimensão
econômica tem desempenhado um papel hegemônico na vida em sociedade. Confunde-se
sociedade com mercado, progresso de um país com crescimento do PIB, cidadãos
com consumidores, trabalhadores com insumo, inclusão social com inclusão na
sociedade de consumo, Estado com empresa…
As várias medidas na agenda do governo não estão permeadas
desse modo de ver? O projeto de País que elas contemplam, em vez de ser o de
uma sociedade mais justa, fraterna, inclusiva e plural, não é preparar um
mercado competitivo na economia global? A necessária reforma trabalhista, em lugar de se pautar pela primazia do trabalho sobre o capital e pela garantia dos
direitos dos trabalhadores nas atuais relações trabalho-capital, não visa ao
aumento da competitividade dos empreendimentos? A reforma da Previdência, em vez
de assegurar uma vida digna aos idosos, não mascara o dreno de recursos
públicos para o capital financeiro?
O congelamento orçamentário provocará a diminuição
proporcional do Estado num País em crescimento populacional, econômico e… de
demandas. Mas isso significa dar mais espaço à sociedade civil, conforme o
princípio da subsidiariedade e com mecanismos de uma democracia participativa? Ou
se transferem importantes aspectos da vida da população, que não podem ser
condicionados pelo lucro e pela eficiência, à iniciativa privada (ou seja, ao
capital)?
Será que um olhar mais atento não mostrará que, para além da
crise econômica – e política, e moral –, o País passa por uma crise bem mais
crônica e profunda, uma crise social? A desigualdade de renda e oportunidades –
de trabalho, instrução, cultura, lazer, cidadania –, a violência – a provocar
mortes em níveis de uma guerra –, os preconceitos raciais, sexuais e religiosos
– com episódios escandalosos e indicadores vergonhosos – e tantos outros
aspectos… “Tratar” da crise econômica sem considerar a crise social não agrava
esta ainda mais? Um adequado ajuste fiscal não deve ser formulado a partir de
definição de políticas públicas que encarem esses desafios?
Para enfrentar isso, urge devolver a primazia à política.
Não certamente à vergonhosa caricatura que se está fazendo dela, mas àquela que
é “uma forma sublime do exercício da caridade” (Paulo VI). É nesse campo que se
fazem necessárias reformas. Não meras adequações institucionais, mas uma
mudança radical da cultura política. Necessitamos de uma prática democrática
que contemple mais do que um processo eleitoral representativo da sociedade e
imune ao poder econômico. Necessitamos de informação transparente e honesta, de
participação social efetiva e de pluralismo dialógico. As soluções não estão
dadas por princípios definidos por um grupo político, mas são dinamicamente
construídas na interação dos diferentes atores sociais durante a travessia.
Um bom início é escapar à dicotomia ou-isso-ou-o-caos e
voltarmos a debater criticamente o País que queremos.
Jornal "O São Paulo", edição 3127, 9 a 15 de novembro
de 2016.
Certamente que sim. Este necessário exercício de diálogo passa por um processo de purificação vista as condições mínimas de removermos da nossa própria consciencia a ideia de extrairmos do bem comum o bem pessoal ao invés de promovermos o bem comum para obtermos o bem pessoal. Ao discernimento das dimensões de bem com valores cristãos dentro do macro processo é urgente justapor o micro processo, para justamente passsarmos das denúncias de malfeitos no espaço midiático à revelação da presença superior nos gestos cotidianos das pessoas que outra solução não tem senão a de continuarem sendo extraordinárias no bem que praticam. A fé nestes atos de rebeldia santa me removem montanhas.
ResponderExcluirÉ logico que como cristãos devemos priorizar os necessitados, mas isto não descarta a organização dos gastos publicos. Só podemos gastar o que temos. E dentro do que podemos gastar vamos priorizar aonde. Mas é super necessario criar o teto de gastos.
ResponderExcluirElisa M Aires