Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Padre Reginaldo Manzotti é coordenador da Associação Evangelizar é Preciso e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba (PR). Apresenta diariamente programas de rádio e TV.
Mais uma vez nos preparamos para comemorar o Natal. A cada
ano a sensação que se tem, através das propagandas vinculadas na mídia, é que
está se perdendo mais e mais o verdadeiro sentido do Natal.
Papai Noel tornou-se o símbolo do Natal, e a festa do Deus
Menino, que nasceu numa simples manjedoura, pobre entre os pobres, na gruta de
Belém, tornou-se um pretexto para um consumismo desenfreado.
Até mesmo entre nós católicos, muitos sabem que celebram o
nascimento de Jesus, mas não se atém à grandiosidade que envolve este fato. A
festa do Natal é de fundamental importância para o cristianismo, pois se
celebra a encarnação de Deus feito homem (Jo
1, 14). Jesus, o Emanuel, Deus Conosco
que entra na história sendo frágil criança, é Deus que se esvaziando de si
mesmo, vem a nós, assumindo nossa condição humana em tudo, menos no pecado. Vem
para trazer a luz, a paz, a salvação. Juntamente com a Páscoa, o Natal é uma
das maiores festas da religião católica.
Nesse tempo é comum passarmos nas ruas e vermos os moradores
pintando, arrumando, decorando suas casas para o Natal, isso é válido, mas não
podemos nos esquecer que é em nosso coração que Jesus quer nascer e renascer a
cada ano. Por isso a Igreja, Mãe e
Mestra oferece um tempo propício para nos prepararmos para viver o Natal em
toda sua plenitude. Este tempo chama-se Advento – chegada.
Esse tempo que vivemos e nos torna mais humanos é uma graça
especial de Deus. Ele a cada ano nos concede este momento de humanização.
Enquanto a ressurreição é o momento da eternização do humano, o Natal é a
humanização do eterno. E ao celebramos o eterno no humano nos tornamos
melhores. Parece óbvio, mas o mundo se torna mais solidário porque os homens
recebem neste tempo uma graça de Deus.
A noite santa e o dia de Natal têm esse encanto de nos fazer
olhar para aquilo que há de mais digno em cada ser humano: o divino
corporizado, transformado, materializado. Somos chamados a olhar o lado bom e a
melhor parte que cada um de nós tem. Por isso o Natal é tão especial e maravilhoso.
O encanto vem do Natal porque nele o lado de Deus presente
em nós fica mais latente, o pedaço de Deus derramado em cada ser humano pulsa
mais forte e no mesmo ritmo que nossos corações. Mesmo os cristalizados,
endurecidos, mesmo aqueles que ficaram amargos, aqueles que ficaram
profundamente marcados pela mundaniedade, explodem diante do eterno, diante da
manifestação frente a Deus, que do alto dos céus abre as nuvens, passa e se faz
um de nós. A noite de Natal permite bombear em todas as nossas veias, a
eternidade que existe dentro de nós.
Há coisas ruins, há mágoas? Supere-as. Um anjo apareceu aos
pastores e anunciando o nascimento do Menino Jesus os encheu de luz, mas o que
disse em primeiro lugar não foi glória ou paz, foi: “Não tenhais medo” (Lc 2, 10a), não temais, não tenhais
pavor, não desiludais.
O mal que pode estar em nós é infinitamente menor do que o
bem, porque Deus o eterno, materializou-se e nós somos um pedaço de Deus.
Natal é Natal porque Jesus nos dá esse presente. O Verbo se
fez carne, o Verbo se fez um de nós. A palavra se fez carne e se fez luz. Vale
a pena insistir, vale a pena deixar a luz nos guiar. Essa luz, esse Cristo que
veio nos trazer um jeito diferente de olhar o mundo, tem que ser um referencial
não só no Natal, mas sempre.
Jornal "O São Paulo", edição 3082, 17 de dezembro
de 2015 a 5 de janeiro de 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário