Num momento de crise econômica, política
e social, como este atual, nossa mentalidade consumista e cética tende a pensar
este Natal como aquele “de poucos presentes”. Ou reduzi-lo a um momento de
esquecimento, de alegria e celebração, onde não lembramos dos problemas que
voltarão quando a festa acabar.
Mas o Natal, inclusive o da crise, é uma
festa de esperança, onde celebramos o fato de que Cristo nos “primereia”, no
neologismo do Papa Francisco. Ele vem
primeiro, vem em nosso auxílio sem que tivéssemos feito algo para merecê-lo.
J.R.R. Tolkien escreveu que as coisas de
Deus são sempre surpreendentes e imprevistas, ainda que tenhamos passado toda a
nossa vida ansiando por elas. Cristo nos “primereia”, toma a iniciativa, vem ao
nosso encontro, e nós, mesmo que sempre tenhamos desejado isto, nos
surpreendemos cativados.
A celebração do Natal não é só do
menino-Deus que nasceu na manjedoura há séculos. É a celebração daquele
primeiro encontro feito por cada cristão em sua caminhada na fé, que cada um de
nós recorda com gratidão e ternura.
Todos nós, num dia, numa ocasião
específica, encontramos Cristo em nossa vida. Geralmente foram ocasiões que
pareciam banais. Outros pensariam em autossugestão, “coincidências” ou frutos
do nosso trabalho e inteligência. Mas nós sabemos que não foi nada disso, que sugestões
e coincidências não explicam aquela ocasião, que nossas capacidades não
poderiam criar aqueles resultados.
Foi Ele que quis se manifestar em nossa
vida, que “primereiou”, tomou a iniciativa e veio até nós. A cada Natal somos
convidados a lembrar não só o nascimento de Belém, mas também este que
aconteceu e continua acontecendo em nossa vida.
A esperança cristã não vem de nossas
forças. Pelo contrário, é ela que nos dá forças. Uma esperança que nasce porque
Deus vem até nós, realmente nos ajuda quando precisamos.
A celebração natalina será um gesto
nostálgico ou escapista, uma simpática ilusão, se não nos lançarmos na
realidade a partir desta esperança. Por isso, a crise não é um obstáculo para a
festa, mas uma oportunidade de nos reencontrarmos com a razão de nossa
esperança.
É um caminho de solidariedade, partilha
e dedicação ao outro. O encontro com Cristo
não é um tesouro que pode ser acumulado. Guardado, se corrompe e perde seu
valor. Distribuído, empenhado na construção do bem, se multiplica e mostra todo
o seu valor.
O Natal da crise não é aquele de poucos
presentes. É o Natal onde o verdadeiro Presente pode se tornar ainda mais
presente. Basta nos entregarmos com confiança à esperança que nasce do encontro
com Cristo, vivendo-a na solidariedade com os que estão nas “periferias da
existência”.
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