Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Ricardo Gaiotti Silva é advogado, juiz eclesiástico no Tribunal Interdiocesano de Aparecida, mestrando em Filosofia do Direito pela PUC-SP e mestrando em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade de Salamanca - Espanha.
A sociedade internacional novamente se depara com inúmeros
problemas que nos levam, inclusive, a desacreditar na possibilidade da
construção de um mundo verdadeiramente humano, no qual as pessoas possam respeitar
e lutar pelos direitos dos homens. Surge então o questionamento: o mundo tem
solução? Qual é o remédio para o egoísmo e individualismo presente? A paz é
possível?
Foram justamente essas inquietações que levaram o Papa Bento
XVI a apresentar, no Natal de 2005, sua primeira encíclica Deus Caritas Est – Deus é amor. O pontífice, naquele momento,
apontava que a palavra “amor” estava cada vez mais sendo utilizada de forma
descontextualizada. Além disso, o próprio nome de Deus – “amor” estava sendo associado
a vingança, ódio e violência. Portanto urgia no mundo, para o Papa, uma
mensagem muito concreta sobre o significado e alcance do amor.
De fato, o Papa Bento XVI traz consigo e nos comunica a
esperança própria do amor, ou seja, uma esperança que parte do acolhimento do dom
gratuito de Deus para como os homens. Uma vez que “Deus tanto amou o mundo, que lhe deu seu Filho único” (Jo 3,16), todos
podem responder a esse dom, colaborando uns com os outros na construção de um
mundo melhor.
A resposta a este amor torna-se uma proposta concreta para a
sociedade, gera concretamente a solidificação de valores almejados por todos
como a fraternidade, a tolerância, a paz, a justiça, a honestidade, etc. Assim,
fundado na esperança própria do amor, o Papa Bento XVI nos apresentou um caminho
de colaboração humana, tendo como ponto de partida a caridade. Por meio dela,
toda a sociedade possui um caminho seguro na busca da paz, da justiça, da
verdade.
O Papa Bento XVI nos ensinou ainda que o amor – caritas – é
sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa. Pois, não há qualquer
ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor. Quem
quer desfazer-se do amor, prepara-se para se desfazer do homem enquanto homem.
De fato o amor não é uma utopia, mas sim uma resposta a um
dom gratuito que recebemos. Isso nos impele a leva-lo para a vida pública, é em
meio à comunidade que somos destinados a viver o amor. Falar de uma atitude
positiva das sociedades fundadas no amor se torna uma realidade concreta, um
convite sábio e exequível na busca de um mundo melhor.
Enfim, se queremos uma sociedade mais
justa, devemos primeiramente acreditar no dom do amor. Acolhendo esse mistério somos
levados a corresponder ao amor, com um autêntico espírito de fraternidade, pois
ela é o remédio que vence o egoísmo. Há uma proposta concreta à qual a sociedade
pode se dirigir: a experiência do amor! A esperança é o amor!
Como bem nos ensinou o pontífice, só haverá paz na sociedade
humana se o amor estiver presente em cada um dos membros, se em cada um se
instaurar a ordem querida por Deus. A paz permanece palavra vazia de sentido,
se não se funda na ordem fundada na verdade, se não é construída segundo a
justiça, alimentada e consumada na caridade, realizada na liberdade, ou seja,
enraizada no amor.
Quem quer desfazer-se do amor, prepara-se para se desfazer
do homem enquanto homem!
Jornal "O São Paulo", edição 3080, 2 a 8 de
dezembro de 2015.
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