No mundo todo, nesse tempo de incerteza e buscas de
novos caminhos, vem sendo apresentadas supostas novas formas de liberalismo. Na
Europa, a eleição de Macron para presidente da França deu força ao “liberalismo
social”, que inclui uma real igualdade de oportunidades como condição para a
liberdade individual. No Brasil, a Fundação Perseu Abramo designou “liberalismo
popular” a uma tendência da população de baixa renda que parece querer “menos
Estado” e mais espaço para a iniciativa individual na economia.
O ufanismo de uns e o alarmismo de outros amplifica
certas tendências, dando-lhes contornos maiores do que realmente têm. Contudo,
vale aqui um diálogo com a doutrina social da Igreja – que não é um programa
ideológico ou partidário e por isso mesmo se propõem a dialogar com todos que
querem construir o bem comum.
Assistimos a uma crise mundial dos Estados sociais,
que mantém a economia de mercado, enquanto as demandas e os direitos sociais
ficam a cargo do Estado. Trata-se de uma linha hegemônica na maioria dos países
ocidentais ao longo do século XX, que costuma ser associada à socialdemocracia,
apesar de se apresentar em muitos outros programas políticos.
Em grande parte, essa crise se deve a razões de ordem
material, pois os governos não conseguem atender às crescentes necessidades
sociais com os recursos disponíveis. Mas também reflete o descontentamento das
pessoas que buscam um reconhecimento de sua dignidade e de sua capacidade de
escolha que não é adequadamente atendido por programas assistenciais de Estados
centralizadores.
Nessa perspectiva, entende-se a sabedoria da doutrina
social da Igreja, que muito antes da crise atual já propõem que a pessoa, com
sua dignidade e sua capacidade de protagonismo, solidariedade e solução dos
próprios problemas, seja o centro tanto das políticas econômicas quanto das
sociais.
Superando os esquematismos que contrapõem mercado e
Estado, como se as respostas a todos os problemas tivessem que vir de um ou de
outro, a Igreja sempre viu, nas palavras de Bento XVI, “a necessidade de um
sistema com três sujeitos: o mercado, o Estado e a sociedade civil” (Caritas in veritate, 38).
O desejo de liberdade e realização pessoal não pode
ser confundido com vitória do individualismo. A população não quer um Estado
omisso nas questões sociais e econômicas, mas sim um Estado subsidiário – isso
é, um Estado que ajuda (subsidia) as pessoas a resolverem seus problemas, sem
impor ideologias ou formas de resposta.
Francisco Borba Ribeiro Neto
Jornal "O São Paulo", edição 3158, 5 a 25 de julho de 2017.
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