Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Antonio Carlos Alves dos Santos é professor titular de Economia na Faculdade da PUC-SP e conselheiro do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
Um ano após as eleições que a reconduziram ao cargo de
Presidente da República, Dilma Rousseff ainda continua encontrando enormes
dificuldades para aprovar no Congresso Nacional as medidas necessárias para corrigir
o péssimo legado econômico do desenvolvimentismo populista do seu primeiro
mandato.
A fragilidade política e a aparente falta de convicção em
relação a urgência de um forte ajuste fiscal levou à decisão, infeliz, de
apresentar uma proposta orçamentária para 2016 com déficit primário, que foi
fundamental na decisão da agência de classificação de risco Standard &
Poor's de retirar o grau de investimento do País. Assustado com a possibilidade
das outras duas agências risco adotarem a mesma posição, que teria graves
consequências para nossa já combalida economia, o Governo Dilma, reapresentou
uma nova proposta de orçamento com medidas de ajuste fiscal focado em aumento
da receita.
Esta estratégia de
ajuste fiscal, segundo a literatura especializada, não é, no entanto, a mais recomendável.
O corte de despesas ainda que, politicamente difícil, seria a melhor opção. Os
cortes de gastos implicam em menor impacto sobre a produção, ou seja, tem um efeito
recessivo menor, em razão da retomada do investimento privado, que é o grande
responsável pelo crescimento econômico em uma economia de mercado.
Infelizmente, em razão da enorme fragilidade política da
atual administração, a opção politicamente mais viável acaba sendo mesmo o
aumento de impostos, posto que o foco do ajuste fiscal, no curto prazo, deve
ser a geração de um superávit primário, que dificilmente será suficiente para a
estabilização e ou redução da dívida pública como proporção do PIB, mas que
deverá ser o suficiente para demonstrar o compromisso da atual administração
com o equilíbrio fiscal durante o seu mandato.
O retorno da Contribuição Provisória sobre Movimentação
Financeira (CPMF) é a melhor solução, se comparado à alternativa que seria o
aumento do CIDE (Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico) sobre o combustível,
que teria forte impacto sobre a inflação. Outras medidas, como é o caso do
retorno do Imposto de Renda para lucros e dividendos distribuídos e maior
esforço na cobrança de devedores da dívida ativa da União, não eliminam a
necessidade da aprovação da CPMF, mas sinalizariam um compromisso da atual
administração em não colocar somente na conta da classe média e dos mais pobres
o custo do ajuste fiscal.
As medidas propostas na peça orçamentária para 2016, no
entanto, não atacam o problema do déficit estrutural que requer medidas de
longo prazo, que passam, necessariamente, por uma discussão, mais ampla, sobre o
modelo de sociedade que desejamos construir. Reconhecer a existência de um desequilíbrio
estrutural entre receitas e despesas, causado pela expansão do gasto social,
não implica (como sugerido por alguns analistas) em um novo pacto social com a
exclusão de vários direitos, que atingiria fortemente a população mais pobre.
É fundamental frisar que não há saídas magicas para atual
situação econômica que, apesar de grave, nem de longe se aproxima das terríveis
crises dos anos 80. Para superá-la é preciso lembrar que a pior coisa é aquela
que é pior para todos e que o objetivo do agir político deve ser sempre o bem
comum. O país tem instituições sólidas e saberá superar a situação atual com a
retomada, sustentada, sem populismo, do crescimento econômico com justiça
social. Este é e sempre será um grande desafio, que deve ser assumido por todos
os brasileiros.
Jornal "O São Paulo", edição 3077, 11 a 17 de
novembro de 2015.
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