Ilustração: Sergui Ricciuto Conte |
Dalton Luiz de Paula Ramos é professor titular de Bioética da USP, membro da Pontifícia Academia para a Vida do Vaticano e conselheiro do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
Em 1993 o Santo Papa João Paulo II retomou o projeto,
interrompido com o atentado à sua vida de 1981, de criar a Pontifícia Academia
para a Vida - dedicada a estudar, informar e formar acerca dos principais
problemas de biomedicina e de direito, relativos à promoção e à defesa da vida,
sobretudo na sua relação direta com a moral cristã e as diretrizes do
Magistério da Igreja.
Para cuidar da tarefa de estruturar esta Academia, o
Papa polonês contatou um amigo, o médico
francês Jérôme Lejeune, geneticista que
descobriu o gene responsável pela Síndrome de Down. Numa conversa telefônica o
Papa pede a ele a tarefa de organizar esta Academia. Lejeune lhe informa que está
com câncer, em seu leito de morte e que por isso seria melhor pedir a outro, ao
que o Santo Papa lembra-lhe que a vida, até o seu último momento, tem um significado
e uma missão a cumprir. Jérôme Lejeune aceita a tarefa, organiza a Academia, que
é instituída em fevereiro de 1994, sendo nomeado seu primeiro Presidente. Dois
meses depois Lejeune falece, sem ter tempo de participar da primeira das
reuniões da Academia.
Anualmente esta Academia promove reuniões onde cientistas
reconhecidos mundialmente, dedicados ao estudo das ciências médicas e da vida,
debatem temas bioéticos atuais, num exemplo de diálogo entre fé e ciência. No
início de 2015, na 21ª Reunião Anual, o tema foi “Assistência ao idoso e
cuidados paliativos”.
Cuidados paliativos representam a atenção a pacientes para
os quais não se encontram mais tratamentos, com prognóstico de morte a curto ou
médio prazo. Estes cuidados servem para tornar o sofrimento mais suportável e assegurar
ao paciente um adequado acompanhamento humano. No Discurso que proferiu aos participantes
desta Reunião, em 5 de março de 2015, o Papa Francisco proclama que “Os
cuidados paliativos são expressão da propensão humana para cuidar uns dos
outros, sobretudo dos que sofrem. Eles testemunham que a pessoa humana
permanece sempre preciosa, mesmo quando está marcada pela velhice e pela
doença. Com efeito, a pessoa, em qualquer circunstância, é um bem para si mesma
e para os outros e é amada por Deus. Por isso, quando a sua vida se torna
frágil e se aproxima a conclusão da existência terrena, sentimos a responsabilidade
de a assistir e acompanhar da melhor maneira.”
Os cuidados paliativos em idosos doentes apresentam
particulares dificuldades. Uma delas é proporcionar à sua família um apoio
adequado, enquanto coparticipante das dores e necessidades do idoso.
No plano das políticas públicas, e na linha da Doutrina
Social da Igreja, cabe aos governantes e à legislação viabilizar recursos, quer
seja na forma de liberação de subsídios - financeiros e de acesso a pessoal
especializado de apoio - quer seja na forma de leis que protejam e liberem o
familiar para atuar como cuidador.
No plano pastoral, as necessidades espirituais se referem à
busca de significado e à necessidade, da pessoa idosa enferma e de seus
familiares, de serem apoiados na esperança. Entre os diversos elementos que
incidem nessa atitude de esperança está a proximidade de pessoas que evitam o
abandono e o isolamento, e que ajudam a resgatar o significado da vida. Nesse
sentido, a responsabilidade é de todos nós da Comunidade Cristã, para que
testemunhemos uma amizade, em Cristo, que recupera o significado da vida até
seu último momento, como o fizeram S. João Paulo II e Jérôme Lejeune.
Jornal “O São Paulo”, edição 3048, de 29 de abril a 5 de maio de 2015.
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