Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Francisco Borba Ribeiro Neto, sociólogo,
coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
Venho de uma daquelas famílias que respiram o
magistério. Sempre fui professor, minha
mãe e meus tios eram professores. Durante anos ensinei na licenciatura,
formando futuros professores. Greves e manifestações de professores não podem
deixar de mexer comigo.
Minha mãe dizia que nunca faria greve, porque seus alunos
tinham direito de aprender e não podiam ser penalizadas pelos erros dos
adultos. Para ela, o magistério era um sacerdócio, uma vocação de doação às
novas gerações.
Na universidade, um de meus professores, um dos marxistas
mais bem preparados do curso e sempre coerente, escandalizou-nos ao dizer que
era contra greves na educação. Greve, dizia ele, é para quem dá prejuízo ao
patrão deixando de produzir. Se professores e alunos não produzem, os
prejudicados são eles mesmos e a sociedade. Portanto, o que devem fazer é trabalhar
e estudar ainda mais, para que o estudo seja realmente um instrumento de
transformação da sociedade.
Diante do descalabro da educação no País, das más condições
de trabalho e remuneração dos professores, tanto minha mãe como meu professor
se posicionariam favoráveis aos protestos de seus colegas atuais e se
mostrariam indignados com a repressão violenta que suas manifestações recebem
em alguns casos.
Os professores não podem ficar calados diante da situação
que está aí. Porém, anos de repetidas greves e manifestações pouco tem feito
pela situação docente.
Ao mesmo tempo, as promessas e os planos dos governos têm
tido sucesso na expansão do acesso à escola, mas pouco influem na qualidade da
educação. Estudos internacionais, como o ranking mundial de educação da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
recém-divulgado, colocam o Brasil em 60º lugar entre 76 países. O PIB de uma
das nações mais ricas do mundo e a qualidade de educação das mais pobres!
Um sistema injusto penaliza os trabalhadores não apenas explorando-os
com salários baixos e cargas de trabalho desumanas. Ele também os penaliza
destruindo o sentido do trabalho, fazendo com que deixe de ser ocasião de
construção da humanidade do trabalhador para se tornar apenas “coisa” a ser
trocada no mercado.
Para minha mãe, educar era um ato sagrado, que enchia sua
vida de sentido e sabor e a aproximava de Deus. Para meu professor, era parte
de sua luta para transformar o mundo, e como tal também era ocasião de
realização pessoal. Hoje, sei que muitos de meus ex-alunos gostariam de viver a
docência assim, mas até esta possibilidade lhes foi tirada – tanto pelas más
condições de trabalho quanto por uma mentalidade que esvaziou o sentido da
educação.
Outras pesquisas têm mostrado que a educação é uma das
maiores preocupações da população brasileira. Mas qual é o apoio que as pessoas
e os movimentos sociais dão aos professores, quando estes reivindicam melhores
condições de trabalho, ou às escolas, que estão em condições materiais e
humanas críticas? Escolas que contam com mais interação e apoio da comunidade
(presença pais e familiares, participação dos estudantes em atividades
comunitárias, etc.) obtém resultados melhores do que outras que estão em
situação semelhante, mas não tem este apoio.
Poucas profissões têm, como a educação, este caráter de
“vocação”, de chamado para uma missão de dedicação às pessoas e transformação
do mundo. Esta é uma riqueza que os professores não podem perder, que o Estado
deve sustentar com políticas educacionais adequadas e toda a população deve
apoiar com reconhecimento e colaboração.
Jornal “O São Paulo”, edição 3052, de 20 a 26 de maio de
2015.
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