Francisco Borba Ribeiro Neto,
coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP
Nosso mundo de novas e revolucionárias tecnologias
parece maravilhoso, mas paradoxalmente nos enche de temores. Basta ver como a
ficção científica imagina o futuro: robôs inteligentes substituem e dominam os
humanos, computadores ganham vontade própria, redes de informação destroem a
privacidade e a liberdade das pessoas...
Essa mescla de medo e fascínio se baseia em fatos
concretos e não só em projeções alarmistas. Paralelamente aos confortos, aos
ganhos econômicos, culturais e científicos,; as novas tecnologias também
ameaçam os trabalhadores com o risco do desemprego provocado pela automatização
e informatização, surpreendem ao mostrar que todas as nossas atividades (deslocamentos,
consultas à internet, necessidades pessoais e profissionais) são monitoradas a
partir de nossos telefones celulares e computadores pessoais.
Teria a doutrina social da Igreja algo a dizer a essa
situação, tão nova e desafiadora? O Papa Francisco, na Laudato si’, nos dá um primeiro discernimento. Escreve:
“A tecnociência, bem orientada, pode produzir coisas
realmente valiosas para melhorar a qualidade de vida do ser humano [...] Não
podemos, porém, ignorar que a energia nuclear, a biotecnologia, a informática,
o conhecimento do nosso próprio DNA e outras potencialidades que adquirimos
[...] dão, àqueles que detêm o conhecimento e sobretudo o poder econômico para
o desfrutar, um domínio impressionante sobre o conjunto do gênero humano e do
mundo inteiro. Nunca a humanidade teve tanto poder sobre si mesma, e nada
garante que o utilizará bem, sobretudo se se considera a maneira como o está
usando [...] Tende-se a crer que ‘toda a aquisição de poder seja simplesmente
progresso, aumento de segurança, de utilidade, de bem-estar, de força vital, de
plenitude de valores’ (Romano Guardini), como se a realidade, o bem e a verdade
desabrochassem espontaneamente do próprio poder da tecnologia e da economia. A
verdade é que ‘o homem moderno não foi educado para o reto uso do poder’ (ibidem)” (LS 103-105).
O poder, enquanto capacidade para fazer coisas, é uma
coisa boa, um dom dado a nós por Deus. Mas quando degenera em dominação passa a
nos ameaçar. Não estamos sendo educados para usar bem o poder, essa é a ameaça
das novas tecnologias, não elas, mas a deseducação para usar bem o poder que
elas trazem.
Mas como educar para o reto uso do poder? Esse é o
caminho de todo esforço educativo da Igreja ao longo dos séculos, basta ter
olhos para ver e ouvidos para ouvir.
Jornal "O São Paulo", edição 3177, 29 de novembro
a 5 de dezembro de 2017.
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