Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Alexandre
Ribeiro é jornalista, foi editor no Brasil do site católico de notícias Zenit e
é atualmente editor do site Aleteia. É membro do Conselho do Núcleo de Fé e
Cultura da PUC-SP.
Um famoso escritor italiano disse que as redes sociais na
internet deram voz a “legiões de imbecis que antes só falavam no bar”. Mas será
mesmo?
De fato, até pouco tempo atrás, as pessoas conectavam-se
umas às outras em lugares físicos de suas vilas ou cidades. Agora, também se
conectam pela internet. Mas o fundamento da conexão entre as pessoas não mudou.
A sociabilidade é a mesma, só que exercida em estruturas diferentes.
O comportamento social é caracterizado pela atuação
recíproca dos indivíduos. O que internet e as redes sociais fizeram foi nada
mais do que oferecer à sociabilidade humana uma nova estrutura técnica, baseada
na rede mundial de computadores. Assim surgiu a sociabilidade virtual, que é a
atuação dos indivíduos, uns sobre os outros, no ambiente digital, realizada por
meio do fluxo de comunicação e da troca de informação.
A sociabilidade virtual é formada pelo conjunto dos sinais
codificados da comunicação humana nas mídias sociais na internet. Ela integra a
ecologia cognitiva do ser humano, enquanto materialização de processos
cerebrais e de construções da criatividade humana.
Nesse sentido, a sociabilidade virtual é um instrumento a
serviço dos cérebros que a cultivam. Ao favorecer que indivíduos atuem
reciprocamente no meio digital, a sociabilidade virtual configura-se como uma
propriedade emergente da estruturação do fluxo de comunicação humano em redes
de computador.
O surgimento da sociabilidade virtual marca uma nova etapa
da sociabilidade humana, em que sistemas técnicos baseados em redes de
computador tornam-se acessíveis à efetização de sistemas sociais.
Para o ser humano, o desenvolvimento de sistemas técnicos
voltados para a modelagem de sistemas sociais por si só já pode ser considerado
um ganho de complexidade. Trata-se de uma nova etapa evolutiva da sociabilidade
humana.
O desenvolvimento de novos sistemas técnicos – os mais
recentes na hierarquia dos gêneros de sistemas – amplia o potencial de
desenvolvimento dos demais gêneros de sistemas (físicos, químicos, biológicos e
sociais). Sistemas técnicos podem servir de suporte a sistemas biológicos. Um
exemplo disso são as próteses criadas para suprir necessidades e funções de
indivíduos sequelados por amputações. No caso dos sistemas sociais, os sistemas
técnicos que formam as redes de computador passam a ser o ambiente de
emergência da sociabilidade virtual.
O aumento de complexidade dos sistemas sociais – potencial
esse favorecido pelo desenvolvimento de sistemas técnicos que ambientam a
sociabilidade em redes digitais – poderá culminar na emergência de uma
cibernética da sociabilidade virtual simbiótica, cuja função seria a ampliação
da complexidade e metaestabilidade da vida social.
Tal sociabilidade virtual simbiótica poderia ambientar, por
exemplo, a emergência de mecanismos de exercício político (instância de poder e
decisão sobre os sistemas biológicos, como a saúde e o meio ambiente; sistemas
econômicos, como as redes de produção; e sistemas culturais, como a educação e
o conhecimento).
A simbiose entre sistemas técnicos e sociais somada à
sociabilidade virtual simbiótica apresenta-se como possibilidade efetiva de
ganho de complexidade e metaestabilidade para o conjunto da vida social.
Essa perspectiva positiva da sociabilidade virtual exige o
reconhecimento de que nada está isolado no universo. Tudo que existe é um
sistema ou ao menos o componente de algum sistema ao qual está conectado. Ou
seja, nada está – e nem nunca esteve – isolado “no bar”.
Jornal "O São Paulo", edição 3177, 29 de novembro
a 5 de dezembro de 2017.
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