Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Francisco Borba Ribeiro Neto,
coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
A grande piada nesta virada do ano foi que 2016 não era um
novo ano, mas o retorno de 2015 estropiado. As notícias do governo, da Lava
Jato e agora da Zelotes, dos congressistas em recesso parlamentar, parecem
confirmar a piada. Já os atuais protestos de rua fazem pensar também no retorno
de um 2013 desnorteado.
Debates, ações policiais capturando corruptos e protestos
nas ruas não são obstáculos à democracia. Pelo contrário, são sinais de
vitalidade democrática, de uma nação que procura se livrar dos erros do passado
e caminhar para o futuro.
Obstáculo para o futuro é a falta de perspectiva política,
que faz com que os principais atores políticos se engalfinhem (até
literalmente) para nada, pois nenhum dos lados têm propostas relevantes para
superar a crise. Obstáculo é a eterna rusga entre PT e PSDB, mais preocupados
em denegrir um ao outro do que em propor soluções (e agora, ao invés de tucanos
em cima do muro, parece que temos urubus de outros partidos esperando a carniça).
Obstáculos são políticos e militantes preocupados em condenar adversários e
absolver partidários e não em ver feita a justiça (que deveria ser dura para os
culpados e doce para os inocentes de ambos os lados).
Obstáculos não estão em jovens manifestando-se e
protestando. A médio e longo prazo seria pior uma geração alienada e apática,
esperando não se sabe o quê. Obstáculos surgem quando as polícias não sabem ou
não conseguem manter a ordem pública nestes protestos, quando umas centenas de
manifestantes se imaginam no direito de depredar o patrimônio dos outros e
mesmo o público, ou de atrapalhar a vida de milhões (incluindo aí os pobres que
querem defender, pois os ricos são sempre os menos afetados por qualquer
problema urbano).
Parece que as lideranças brasileiras – sejam quais forem – não
ouviram as palavras que o Papa Francisco dirigiu a elas, durante a JMJ (em 27/07/2013).
Ele insistiu na necessidade do diálogo para a superação dos problemas sociais.
Mas o que mais se vê no Brasil de hoje são confrontos estéreis que não conduzem
a nada. Os caminhos propostos pelas partes são insatisfatórios e precisam ser
revistos para contemplar também as necessidades apresentadas pelos demais
grupos.
A primeira exigência para o diálogo é a justiça. Em países
com longo histórico de conflitos internos, como a Colômbia, os que lutam pela
paz sabem que as partes precisam fazer concessões e perdoar, mas a realização da
justiça é o primeiro passo para a conciliação. O Brasil encontra-se num momento
de inflexão na luta contra a corrupção. As coisas não podem acabar em pizza,
mas para isso nem a impunidade, nem o revanchismo ou a raiva podem dar a última
palavra.
O diálogo exige sempre, porém mais ainda neste momento, responsabilidade
social e um olhar realista diante dos problemas. Não se pode querer que um
Estado em crise financeira “fabrique dinheiro do nada” ou que uma nova ordem
política e social aconteça simplesmente porque as coisas vão mal. As duas
hipóteses já foram tentadas em nossa história – e só pioraram a situação. Por
outro lado, não se pode ignorar a ultrajante sensação de dignidade ferida que o
povo vive ao saber que terá de apertar o cinto por conta de erros políticos,
técnicos e até morais de uns poucos.
Justiça, realismo e responsabilidade social são as condições
para a credibilidade e o diálogo. Credibilidade e diálogo são as condições para
sairmos da crise. É o momento das organizações sociais, como associações,
sindicatos, universidades, igrejas, colocarem sua credibilidade a serviço do
diálogo em todos os níveis.
Jornal "O São Paulo", edição 3086, 28 de janeiro a 2 de fevereiro de 2016.
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