Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Rafael Mahfoud Marcoccia é professor do Centro Universitário da FEI, fez Doutorado sobre Doutrina Social da Igreja e é colaborador do site católico Terre d'America.
Em breve celebraremos mais um Dia do Trabalho, mas as notícias mostram que a taxa de desemprego no Brasil já atingiu 13,5 milhões de pessoas, uma das consequências mais dramáticas da crise que ainda estamos passando. O desemprego não afeta somente economicamente, mas fere a dignidade humana.
Em breve celebraremos mais um Dia do Trabalho, mas as notícias mostram que a taxa de desemprego no Brasil já atingiu 13,5 milhões de pessoas, uma das consequências mais dramáticas da crise que ainda estamos passando. O desemprego não afeta somente economicamente, mas fere a dignidade humana.
O trabalho é fonte de
realização pessoal, como nos lembra João Paulo II na Laborem exercens (n.9). É um aspecto fundamental da vida por
atender às necessidades humanas tanto do ponto de vista material como
espiritual. Através das tarefas concretas o ser humano se sustenta e expressa
seu modo original de realizar valores em um determinado tempo e lugar. É a
maneira de a pessoa marcar a realidade, imprimir o seu “eu” nela.
Dessa forma, o trabalho ganha relevância e significado para
a pessoa, pois possibilita ao ser humano a descoberta e a integração da própria
personalidade. É menos importante a tarefa em si, mas é fundamental como se
trabalha. Viktor Frankl afirma que “o que importa não é, de modo algum, a
profissão em que algo se cria, mas antes o modo como se cria; que não depende
da profissão concreta como tal, mas sim de nós o fazermos valer no trabalho
aquilo que em nós há de pessoal e específico, conferindo à nossa existência o
seu caráter de algo único, fazendo-a adquirir, assim, pleno sentido” (Psicoterapia e sentido da vida, São
Paulo: Quadrante, 1989).
A realização que vem do trabalho está vinculada à
singularidade do ser. Não são as atividades ou tarefas em si que realizam ou
satisfazem, mas o que se afirma através e para além delas. Continua Frankl:
“Não é um determinado tipo de profissão o que oferece ao homem a possibilidade
de atingir a plenitude. Nenhuma profissão faz o homem feliz. A profissão, em
si, não é ainda suficiente para tornar o homem insubstituível; o que a
profissão faz é simplesmente dar-lhe a oportunidade para vir a sê-lo. Só a
partir do momento em que se move para além das fronteiras dos preceitos
puramente profissionais, para além do que está regulado pela profissão, só a
partir desse momento é que o médico, por exemplo, começa um trabalho
verdadeiramente profissional, que só ele pode levar a cabo completamente”
(idem).
O trabalho expressa também a dimensão comunitária do ser humano, ao propiciar a interação ou
recriação de recursos para a vida em comum. Diz Hannah Arendt: “Nenhuma vida
humana, nem mesmo a vida de um eremita em meio à natureza selvagem, é possível
sem um mundo que, direta ou indiretamente, testemunhe a presença de outros
seres humanos. Todas as atividades humanas são condicionadas pelo fato de que
os homens vivem juntos” (A condição humana,
São Paulo: Forense, 2007) O trabalho constitui, então, uma possibilidade
de desenvolver a personalidade humana e colocar-se
a serviço dos outros.
A pessoa deve colocar-se objetivamente a serviço dos outros,
empenhando-se da melhor maneira possível em sua missão. E o sentido do trabalho
está vinculado ao que cada ser humano pode expressar de único e original, ou
seja, à sua dimensão subjetiva.
Por fim, o ser humano, “mediante seu trabalho, participa na
obra do Criador e, segundo a medida de suas próprias possibilidades, em certo
sentido continua avançando, cada vez mais, na descoberta dos recursos e dos
valores encerrados em tudo o que foi criado” (Laborem exercens (n.25).
Oferecer condições para que as pessoas consigam um trabalho
digno é uma das tarefas primordiais da nossa sociedade e dos nossos governantes.
Jornal "O São Paulo", edição 3149, 4 a 9 de maio
de 2017.
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