Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Ao lançar a Pacem in
terris, há mais de cinquenta anos, São João XXIII afirmou: a guerra jamais pode
ser justa. Diante da imensidade dos problemas bélicos existentes no mundo de
hoje, o verdadeiro esforço da comunidade internacional deve se voltar para a
afirmação imediata do direito ao desarmamento.
No entanto, parece existir um volume cada vez maior de armas
por todos os cantos. Não se trata, tão somente das armas de grande porte ou de
grosso calibre, das quais são detentores os Estados e muitos grupos
terroristas. Existe um crescendo assustador de armas de pequeno porte,
encontradas nas mãos até mesmo de crianças de tenra idade.
A violência generalizada, tem as suas explicações.
Em 2013, a Assembleia da ONU aprovou o Tratado Internacional
sobre Comércio de Armas, assinado pelo Brasil mas até agora não ratificado pelo
Estado brasileiro, condição para que entre em vigor por aqui. Aliás, como um
dos quatro maiores exportadores de armamentos no mundo (ao lado de Estados
Unidos, Itália e Alemanha), parece ter optado o Brasil pelo negócio da guerra e
não pelo negócio da paz.
Apesar da crise econômica mundial, o gasto com armamentos
tem aumentado significativamente. Só no ano de 2014, o comércio mundial de
armas teve um incremento de 1,4%. E, mais uma vez, o Brasil desponta como o
décimo primeiro pais que mais gasta com armamentos.
Para que se tenha uma ideia em termos comparativos, o gasto
com mais importante programa social do Governo Federal – o bolsa-família – foi
de 25 bilhões de reais em 2013 e, no mesmo ano, o Brasil gastou 33 bilhões com
a aquisição de armas.
Tudo isso revela um profundo paradoxo.
Com efeito, na Declaração do Milênio, do ano 2000, a imensa
maioria dos integrantes das Nações Unidas se comprometeu com o desarmamento,
para libertar os povos da “praga” da guerra! No entanto, passados os quinze
anos assinalados naquele histórico compromisso, o que se fez foi o incremento
cada vez maior nos gastos com o armamento.
Impressiona, ainda, o fato de que tudo isso tenha acontecido
nos anos subsequentes ao fim da guerra fria, pretexto que fora utilizado
historicamente para que os blocos de poder do mundo intentassem a corrida
armamentista.
Quem são os atuais senhores da guerra?
A história da mais recente guerra mundial (1939-1945)
identificava os líderes do Reino Unido, dos Estados Unidos da América e da
então União Soviética como os senhores da guerra, unidos pelo objetivo comum da
derrota do outro senhor da guerra que, não esperando para ser enforcado,
cometeu o suicídio. ´
Ocorre que os mesmos ocupantes dos cargos seguirem
acumulando armamentos, e a eles se associaram a França e a China. Esse quinteto
tem poder de veto em todas as decisões do Conselho de Segurança das Nações
Unidas e nada tem feito para que se instaure, o quanto antes, o direito ao
desarmamento.
São eles os senhores da guerra, em tempo de paz, e não
querem que a ameaça de novas guerras deixe de existir porque, coincidentemente,
estão – os cinco – entre os dez maiores produtores de armas do mundo.
É verdadeiro o aforismo dos romanos: si vis pacem para
bellum (se queres a paz, prepara-te para a guerra)? Parece que sim, pois os
senhores da guerra incentivam o armamento e, por consequência, impedem o
desarmamento...
Desde a histórica Resolução n. 1378, de 1959, as Nações
Unidas têm preconizado o desarmamento geral e completo. Todos os anos, a
Assembleia Geral tem reassumido esse compromisso.
Porque os senhores da guerra não deixam que se cumpra tal
desiderato?
Jornal “O São Paulo”, edição 3046, de 15 a 22 de abril de
2015.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLamentavelmente após os recentes episódios na França a cultura de guerra e a resposta (vingativa) despontam como se fosse a única saída!
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