quarta-feira, 5 de abril de 2017

Campanha da Fraternidade 2017 - Para um desenvolvimento humano e sustentado

A Doutrina Social da Igreja na defesa dos biomas brasileiros

VI



Na segunda metade do século XX, tanto a doutrina social da Igreja quanto os movimentos ambientalistas e alguns economistas se procuraram repensar o desenvolvimento, superando o economicismo. Daí nasceu a ideia do desenvolvimento humano integral, na Populorum progressio (PP) de Paulo VI, do desenvolvimento sustentado, entre os movimentos ecológicos, e do desenvolvimento como liberdade, proposto pelo Prêmio Nobel Amartya Sen.
Todas essas propostas se baseiam na percepção de que o desenvolvimento é indispensável à vida humana, mas que deve se orientar para o bem-comum e não para interesses privados: “promover todos os homens e o homem todo” (PP 14). A integralidade é o fio condutor dessa visão de progresso e o Papa Francisco evidencia essa ligação entre desenvolvimento e meio ambiente ao propor, na Laudato si’, uma ecologia integral (LS 137ss).
Ambientalismo e doutrina católica partem da busca de uma sabedoria que torne a vida mais humana, lutando contra as falsas promessas do poder econômico e tecnocientífico (LS 101-114), as pretensões do individualismo e do consumismo (LS 50, 203-210). Essa sabedoria já se manifesta na percepção de que não podemos ser felizes sozinhos, sem olhar para nossos irmãos e para a própria natureza. A solidariedade – e sua expressão máxima, que é a fraternidade – estão presentes nas propostas tanto do desenvolvimento humano integral quanto do desenvolvimento sustentado. Hoje, o Magistério católico compreende que essa solidariedade é intergeneracional (Caritas in veritate, CV 48, LS 159ss) e se estende também a um cuidado com toda a criação, conforme propõe o movimento ecológico (CV 48-52, LS 14). Mas também o movimento ecológico se tornou cada vez mais consciente que a defesa do meio ambiente implica também num compromisso com os mais pobres, que sempre foi prioritário para os cristãos.
E mais: a valorização das comunidades e organizações locais (CV 58, LS 176-181), dos saberes tradicionais (LS 63, 143-146), do Estado a serviço do bem-comum, da colaboração e da ajuda mútua entre todas as nações (CV 53ss, LS 164-175) são pontos em comum entre a doutrina social católica e a maioria das propostas de desenvolvimento sustentado.
São muitos pontos em comum, todos apontando para um trabalho compartilhado e uma busca conjunta por aquilo que realmente dá sentido á vida e preenche o nosso coração.
Francisco Borba Ribeiro Neto
Jornal “O São Paulo”, edição 3144, 29 de março a 4 de abril de 2017

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