Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Toda festa litúrgica é um “memorial”, um evento a ser vivido e não apenas celebrado. Na tradição da Igreja, viver a memória do Natal significa muito mais do que se lembrar de um evento que aconteceu no passado e que nós recordamos porque é importante não esquecer. Quer dizer reviver um “evento divino” em nosso presente. Um acontecimento feito por Deus que entra na história da humanidade e, portanto, é um fato divino e eterno, que não se restringe a um tempo (dois mil anos atrás) ou um lugar (Belém). Um prefácio da liturgia de natal diz: “por ele, realiza-se hoje o maravilhoso encontro que nos dá a vida nova em plenitude. No momento em que vosso filho assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade – ao tornar-se ele um de nós, nós nos tornamos eternos”. Ou como diz São Leão Magno: “despojemo-nos, portanto, do velho homem com seus atos; e tendo sido admitidos a participar do nascimento de Cristo, renunciemos às obras da carne”. Nos lembra ainda uma antífona da oitava de natal: “admirável intercambio! O criador da humanidade, assumindo corpo e alma, quis nascer de uma virgem. Feito homem, nos doou sua divindade”!
Assim, nós todos, cada um de nós, é chamado a nascer de novo
neste tempo. E numa espiral ascendente aprofundar a consciência da nossa
dignidade divina. Precisamos voltar a ser crianças com o menino Jesus. O Natal, não é de fato, antes de tudo a festa
das crianças? Quem é tão velho que não pode voltar a ser criança? Jesus diz,
olha, convém-lhe voltar a ser criança, pois é assim que você entrará no céu.
A sociedade de consumo se aproveitou disso e foi aos poucos
transformando o natal em uma festa de presentes a serem comprados, primeiro
para as crianças e depois para todos os adultos. O consumismo e a
obrigatoriedade de comprar presentes tornou a festa de natal, uma festa para
poucos escolhidos... Mas convém-nos não ser passivos diante dessa cultura que definiu
o ser humano como aquele que “é objeto de consumo”; pois ela nos reduz
tremendamente e nos faz perder a consciência da nossa dignidade. O que podemos
fazer então para viver o natal de modo cristão? Que tal fazermos os presentes
para os outros em vez de comprar? Uma torta, brigadeiros ou bolo? Um crochê,
tricô ou pintura? Um vaso? E para quem não tem tempo: gravar umas músicas,
pegar uma bela apresentação na internet e presentear? Quando era pequena nós
construíamos a arvore de natal com galhos e pintávamos as bolas que fazíamos
com pedaços de jornal e cola. Por que também não perguntar no trabalho ou no
prédio se tem alguém que vai passar o natal sozinho, sem família, ou que o
marido ou a esposa o deixaram, ou quem perdeu alguém este ano e fazer uma festa
alargada e comunitária? Para muitas pessoas o natal é o período mais triste do
ano, e quando o número de suicídios mais aumenta.
Uma linda mensagem de Natal, que teve ampla divulgação nas
redes sociais, nos lembra que essa festa deve acontecer em nós: “Natal é você
quando se dispõe, todos os dias, a renascer e deixar que Deus penetre em sua
alma. O pinheiro de Natal é você, quando com sua força, resiste aos ventos e
dificuldades da vida. (...) Você é o sino de Natal, quando chama, congrega,
reúne. A luz de Natal é você quando com uma vida de bondade, paciência,
alegria, generosidade consegue ser luz a iluminar o caminho dos outros. Você é
o anjo de Natal quando consegue entoar e cantar sua mensagem de paz, justiça e
de amor. (...) O presente de Natal é você, quando consegue comportar-se como
verdadeiro amigo e irmão de qualquer ser humano. (...) Você será os votos de
Feliz Natal quando perdoar, restabelecendo de novo, a paz, mesmo a custo de seu
próprio sacrifício. (...) Você é a noite de Natal quando consciente, humilde, longe
dos ruídos e de grandes celebrações, em silêncio recebe o Salvador do mundo”.
Jornal "O São Paulo", edição 3132, 20 de dezembro de 2016 a 10 de janeiro de 2017.
Jornal "O São Paulo", edição 3132, 20 de dezembro de 2016 a 10 de janeiro de 2017.
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